segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Catherine Hakim: "Ter um caso faz bem ao casamento"

PRAGMÁTICA A socióloga britânica Catherine Hakim.  Em seu novo livro,  ela diz que as traições conjugais tornam os casais mais felizes  (Foto: Camera Press/Eamonn Mccabe) Pesquisadora da london School of Economics, a socióloga inglesa Catherine Hakim gosta de desafiar a moral vigente. Em 2011, ela publicou Capital erótico, livro em que defendia o direito de usar a beleza para subir na vida. Agora, aos 64 anos, acaba de lançar The new rules: internet dating, playfairs and erotic power (em tradução livre, As novas regras: encontros pela internet, casos rápidos e poder erótico), sem previsão de publicação no Brasil. Para escrevê-lo, Catherine entrevistou usuários de sites para infiéis. Eles contaram a ela que são felizes no casamento e que buscam parceiros sexuais na internet apenas para suprir a falta de sexo, comum na vida dos casais. Catherine defende essa atitude. “Gostar de comer em casa diariamente não nos impede de ir ao restaurante de vez em quando.”
ÉPOCA – Há evidências de que os casamentos mais duradouros são aqueles em que ocorrem casos extraconjugais?

Catherine Hakim – As pesquisas mostram que, nos países com menor taxa de divórcio, os casos extraconjugais são mais aceitáveis e praticados. Nos Estados Unidos, onde a infidelidade é vista como pecado e não se tolera a mínima escapada, metade dos casamentos termina em divórcio. Na Europa, há uma cultura de que a fidelidade sexual no casamento não é tão importante assim. Não é à toa que, na Espanha e na Itália, a taxa de divórcio fica em torno de 10%. Nesses países, os estudos revelam a alta incidência de casais em que cônjuges já tiveram um ou mais casos durante o relacionamento. Casamentos começam e terminam por várias razões. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, as mulheres dizem largar o marido depois de alguma evidência de um caso. Hillary Clinton foi publicamente execrada por não ter se separado depois da exposição do caso entre seu marido, Bill Clinton, e a estagiária Monica Lewinsky.

ÉPOCA – Trair, então, é a receita para manter um casamento feliz?

Catherine –
Não, só estou dizendo que um caso não é grande coisa. Acho exagero esse conceito que rotula a infidelidade como um terrível desastre e que, se acontecer em sua casa, é sua obrigação pedir o divórcio. Meu livro retrata as experiências de homens e mulheres que usam sites de encontros para ser infiéis. A razão mais comum para eles recorrerem a isso é um casamento sem sexo suficiente. Eles tentam encontrar quem também quer preencher essa lacuna. Para essas pessoas, ter um caso é uma ótima forma de manter um casamento feliz. Nos anos 1960 e 1970, era imoral ver jovens solteiros fazendo sexo antes do casamento ou morando junto. Agora, essas coisas são aceitas. Da mesma forma, sexo fora do casamento virou algo factível. A ideia ainda choca, apesar de ser difundida nesses sites. Hoje, sociedades como a França entenderam que a fidelidade sexual é uma questão de escolha e não pode ser imposta. Isso não tem a ver com poligamia ou relacionamento aberto. A dinâmica é outra, porque você esconde o caso.

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