quarta-feira, 29 de março de 2017

Borega Melo , do grupo Matita Perê lança CD em Feira hoje




Tinha sido um ano difícil para a Tribuna Feirense, assim, nos reunimos para uma confraternização de fim de ano: equipe e nosso fundador Valdomiro Silva. Duas presenças eram novidades: Atila, meu filho, que estando na cidade me acompanhou e Borega, nosso chargista, que se desbancou das bandas de Salvador, para o encontro. Uma das raras oportunidades em que pode vir. Umas doses mais tarde – não se pode negar- o espírito mais leve das tensões que a crise anunciava, meu filho pegou o violão. E, assim, presentes os raros- o violão, o destino e Borega- tudo teve início. Ele tocou uma música que falava de um andarilho no universo de minha memória- sertão- depois outra na mesma toada e sentimento- carro de boi- que encantou a todos e a mim de forma particular, pela rara beleza.

Perguntado, Borega, disse as que as músicas eram de seu pai. Confesso que me espantei, pois, não conhecia. Ele disse que havia apenas gravações esporádicas. Entre ouvir e cobiçar não demorou duas notas. De imediato, nasceu ali, a proposta de resgatar as músicas de Giberval Melo- pai de Borega e já falecido-, gravar um CD e distribuí-lo com a Tribuna Feirense.
Primeiro, Borega, teve de confirmar se a ideia persistia no dia seguinte, curado a ressaca. Confirmado, foi revirar o baú entre o entusiasmo e a emoção. Da banda de cá, víamos os meios de viabilizar os custos do projeto, mas os tempos ficaram críticos e demos com os burros n’água. Como não gosto de dar a palavra em vão e se os cavaleiros- como eles dizem- estavam na missão, não dava para voltar. Foi assim que Borega, Luciano e Rafael, desceram de Salvador para uma reunião objetiva, numérica e confirmatória, que eles andavam meio ressabiados quando viram a soma das coisas. Nada que umas garrafas de vinho na varanda e umas músicas tocadas ao fim da tarde não nos convencesse que era irreversível o projeto.
Daí por diante foi andar, reunir, noticiar, optar por tamanho, gravar. Só que os passos da arte feita com o refinamento do Matita é licor que exige maturar, que se faz com esmero e acabamento refinado. Assim, atravessaram todo 2016 violando prazos e polindo o Reino dos Encourados. Agora, inaugurado o ano, o primeiro CD com “código de barra”, como brincamos, do Matita, nasceu e quer se mostrar. Vem premiado, desde antes, com Baião Bachiado, escolhida como melhor música instrumental no Festival da Educadora. É muita banca para quem não tinha, ainda, nem pose definitiva.
Hoje, esta especiaria está sendo entregue aos ouvidos e escutar de Feira e do resto do mundo. Aqui nascido, aqui se lança primeiro e bota perna na sua feitura de filho pródigo. Não pertence mais aos seus feitores e sim ao que guardam em si a espera da música maestra, do instrumental pelejado como ofício dos deuses. Sirvam-se. O banquete é de vocês. Deixem a alma se encantar com a ternura de Timidez, a força poética e personalidade de Decisão, se refestelar na rede com a trilogia das santas canções da vida sertaneja que são Carro de Boi, Andarilho e Velho Sertanejo. Bebam da sabedoria poética de Licor de Jenipapo e do amor em Desejos, além da raridade do registro de Giberval Melo cantando, com seu irmão Marcelo acompanhando-o ao violão.
A nós, da Tribuna, cabe apenas o orgulho de cumprir mais uma vez nosso compromisso com Feira, suas coisas, memórias e histórias. A mim, pessoalmente, emociona a cumplicidade do acaso que permitiu este acontecimento, fazendo com que um pai, já ido, abra um caminho a seu filho e que este filho reaproxime-se de seu pai, afine sua conversa com ele, e tome como ponto de partida, o exato ponto em que se apartou dele- ou, talvez, nunca tenha, era só questão de afinar o tato-, para andar de mãos e sons dados com ele.
Cultivem sua audição. A obra é prima.

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