Você está zapeando
no Tinder quando, de repente, descobre que um possível match se diz
“sapiossexual”. Você se sente obsoleto – isso é uma gíria? É uma nova forma de
orientação sexual ou identidade de gênero da qual você ainda não se atualizou?
É mais simples que
isso, no papel. Sapiossexual é o nome moderno para quem garante que é atraído
sexualmente pela inteligência alheia.
Tá bom, tá bom:
todo mundo valoriza inteligência em alguém que quer namorar. Nem faria sentido,
evolutivamente, se atrair pela pessoa menos intelectualmente capaz do bando de
hominídeos ao seu redor – o tamanho do seu cérebro é a prova de que a seleção
natural e sexual favoreceu os espertos.
Mas, em teoria,
para ser sapiossexual você teria que ir além: a inteligência deveria ser o
maior gatilho para você, em termos de excitação sexual – acima dos atributos
físicos. É ter tesão, muito literalmente, na inteligência alheia. Com o termo
em alta, surgiu até o Sapio, um app de encontros feito
exclusivamente para esse público.
Sempre que há um
fenômeno estranho há um cientista pronto a estudá-lo. E veja você, em pleno
2018, já temos um artigo
científico publicado avaliando o que a ciência
tem a dizer sobre os sapiossexuais: quem são? Como funcionam? Como são? Eles
existem mesmo?
O estudo, feito na
Austrália, criou o Questionário de Sapiossexualidade (SapioQ) para medir com
segurança, em uma nota de 1 a 5, o quanto uma pessoa é atraída sexualmente só
pelo intelecto. No teste, o participante tinha que concordar ou discordar com
frases como “Escutar alguém falar de forma extremamente inteligente me excita
sexualmente”.
A maioria das
pessoas não tirou notas muito altas no questionário, nem nos outros testes
sobre atração sexual e inteligência feitos no estudo. Para elas, outros fatores
tinham influência superior à atração sexual.
Isso você já
esperava né? Mas 8% dos participantes tirou uma nota maior que 4 – sinal de que
sim, algumas pessoas são sexualmente atraídas por inteligência.
Mas peraí. Os
pesquisadores colocaram mais uma hipótese: se essa relação
excitação-inteligência realmente se aplica, então quanto mais inteligente for
alguém, mais atraente ela vai aparecer para um sapiossexual, certo?
Errado. Eles
testaram como a atração sexual variava de acordo com o QI de um parceiro
hipotético. No começo, tudo certo: as pessoas realmente demonstravam muito mais
atração por alguém com um QI que fica na média do que por alguém que tinha um
QI entre os 25% mais baixos da população.
E a atração sexual
ia crescendo conforme o QI subia, até chegar ao QI 120 (mais alto que 90% do
resto da população). Aí caía abruptamente! As pessoas se
sentiam progressivamente menos atraídas conforme o QI subia
acima de 120. Os 10% das pessoas com os QIs mais altos da população eram
considerados muito menos atraentes do que seus colegas menos bem-dotados
mentalmente.
Entre os 8% que
eram sapiossexuais, segundo o SapioQ, a queda era menos pronunciada, mas ainda
existia. Um dos possíveis culpados é o estereótipo do gênio destrambelhado e
sem habilidades sociais, como o Sheldon, que ilustra este texto.
Ainda que o estudo
não afirme categoricamente que o sapiossexual não existe, ele conclui que é
extremamente provável que outros fatores não-intelectuais influenciam a
atração, em qualquer cenário.
Ah, e vale lembrar:
o quanto você é atraído por inteligência não depende da sua própria:
pessoas avaliadas como menos e mais inteligentes que a média tinham a mesma
chance de curtir pessoas intelectuais (dentro do limite de 120 de QI).
A única diferença é
que pessoas mais inteligentes tinham mais aversão sexual a
pessoas de baixo QI. Veja só que beleza.
Ser sapiossexual,
portanto, não te torna mais inteligente que a média. No máximo, um pouquinho
mais prepotente. E a inteligência só é sexy até um certo limite, independente
do que você coloca no seu Tinder. (Super Interessante)
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