quinta-feira, 14 de junho de 2018

'O pessoal está notando que a gente existe': o aplicativo que coloca catadores de recicláveis no mapa


Nos mais de 20 anos de carreira como catadora de materiais recicláveis, Rosineide Moreira Dias das Neves, a dona Rosa, se habituou à penosa rotina de percorrer as ruas do Recife na missão de filtrar o que é reciclável do que é lixo nas calçadas, tendo que enfrentar preconceito pelo caminho.
"Tem muita gente que discrimina o que a gente faz. Acha que a gente é catador de lixo. Não entende que não é lixo, é reciclagem", diz a pernambucana de 55 anos. "A gente está tentando limpar o ambiente, mas a sociedade não vê."
Os périplos incertos em busca de papelão, garrafas PET, latinhas de alumínio e outros materiais estão dando lugar a viagens mais garantidas, na medida em que aumentam os chamados de endereços certos para coletar materiais recicláveis - em residências, escolas, lojas ou edifícios.

Desenvolvido pela ONG Pimp My Carroça, do grafiteiro e ativista Mundano, de São Paulo, o Cataki ganhou, em fevereiro, em Paris, o grande prêmio de inovação do Netexplo, observatório que estuda o impacto social e econômico de tecnologias digitais e premia as iniciativas consideradas mais inovadoras, em um fórum realizado em parceria com a Unesco.
O aplicativo indica os catadores de uma região em um mapa com ícones de carroças, o veículo com que a maioria transporta os resíduos que coleta.
De acordo com a ONG, os catadores são responsáveis pela coleta de 9 em cada 10 quilos de material reciclado no país - mas não têm reconhecimento pelo papel que desempenham. O Censo de 2010 identificou no Brasil, na época, cerca de 400 mil catadores de materiais recicláveis.
O país gera mais de 200 mil toneladas de lixo por dia, mas uma parcela pequena vai para reciclagem - cerca de 13%, de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"Nosso foco é que os catadores sejam reconhecidos como prestadores de um serviço público, e que o aplicativo ajude a gerar mais renda para eles", diz Carol Pires, coordenadora do Pimp My Carroça.
O aplicativo é uma plataforma colaborativa sem fins lucrativos, e os valores para uma coleta ficam a cargo da negociação entre as partes. Não há taxas para usar o app, mas a recomendação é que o catador seja pago pelo serviço, diz Pires - de acordo com a quantidade de material a ser coletado a distância a ser percorrida.
No aplicativo, os ícones de carroças levam a um curto porém simpático perfil apresentando cada catador, com foto, apelido, telefone, as áreas onde atua, os tipos de resíduos que coleta e uma breve história de vida. Leia matéria completa no BBCBrasil.

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