Desde o fim de
janeiro, o serviço do Ministério da Saúde que combate a disseminação de
notícias falsas já refutou dezenas de mentiras que circulam na internet
sobre o novo coronavírus. Entre textos, imagens e vídeos, chama a
atenção a quantidade de recomendações erradas para prevenir a doença, de
uísque a vitamina D. A velocidade da dispersão de informações
equivocadas e sem comprovação científica sobre o vírus preocupa
especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
No início de fevereiro, a Sociedade
Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota de repúdio a respeito
de um vídeo distribuído via Whatsapp que citava a injeção de vitamina D
em doses altas como estratégia preventiva ao novo coronavírus.
O vice-presidente da SBI, Alberto Chebabbo,
alerta que altas dosagens dessa vitamina podem ser prejudiciais à saúde e
que outros métodos falsos podem prejudicar a real prevenção da doença.
"Há uma quantidade enorme de fake news, de
notícias falsas, e a maior parte delas relacionadas a formas de
prevenção. Uso de vitamina para melhorar o sistema imunológico, fazer
gargarejo com água quente, coisas que não têm nenhum tipo de evidência
científica", diz o especialista que avalia o fenômeno com preocupação.
"São recomendações que não vão proteger o indivíduo e vão dar uma falsa sensação de prevenção."
Para prevenir o novo coronavírus, o Ministério da Saúde recomenda:
- lavar as mãos frequentemente com água e
sabonete por pelo menos 20 segundos, ou usar desinfetante para as mãos à
base de álcool quando a primeira opção não for possível;
- evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas;
- evitar contato próximo com pessoas doentes;
- ficar em casa quando estiver doente;
- usar um lenço de papel para cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar, e descartá-lo no lixo após o uso;
- não compartilhar copos, talheres e objetos de uso pessoal;
- limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.
Outros cuidados importantes são manter ambientes bem ventilados e higienizar as mãos após tossir ou espirrar.
O ministério explica que não há nenhum
medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que
possa prevenir a infecção pelo novo coronavírus.
Cuidado com as redes sociais
Chebabbo pede que a população não repasse
nem compartilhe em suas redes sociais quaisquer recomendações sem a
certeza de que as fontes são confiáveis e de que os conteúdos são
verdadeiros.
"Se você não tem certeza de que aquela notícia é verdadeira, é melhor não repassar", diz o especialista.
Entre as recomendações falsas disparadas via
WhatsApp estão: tomar chá de abacate com hortelã, chá de alho, uísque
quente com mel ou vitamina C com zinco. Nenhuma dessas medidas ajuda a
prevenir o coronavírus.
Chebabbo recomenda buscar informações nas páginas da própria Sociedade Brasileira de Infectologia, do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais de saúde.
A SBI também divulga notas técnicas e recebe perguntas por meio de um serviço Fale Conosco em seu site. Já o serviço Canal Saúde Sem Fake News, do Ministério da Saúde, pode ser consultado na internet. Dúvidas podem ser enviadas pelo Whatsapp (61) 99289-4640.
Desinformação
Especialista em fake news sobre saúde, o
pesquisador Igor Sacramento, do Instituto de Comunicação e Informação
Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz
(Icict/Fiocruz), avalia que as epidemias vieram acompanhadas de boatos e
pânico em momentos da história muito anteriores à internet, como a
epidemia de peste bubônica que matou milhões de pessoas no século 14. Um
exemplo mais recente é o do vírus Influenza, cuja pandemia foi objeto
de boatos na internet há cerca de uma década. Apesar dessa recorrência,
ele destaca que o momento atual é preocupante pelo descrédito que a
ciência vem sofrendo em parte da sociedade.
"As pessoas têm confiado cada vez mais em
discursos e informações que não são baseadas em evidências nem na
ciência, mas na experiência de pessoas que disseram que isso aconteceu",
alerta. "É muito preocupante quando as pessoas acreditam mais em um
testemunho no YouTube do que em um especialista que pesquisou um assunto
por anos."
Primeiro país a ter sido afetado pela
doença, a China vem sendo alvo de parte dessas notícias falsas. Em
algumas delas, produtos importados do país asiático são considerados
possíveis transmissores do vírus, que, segundo um desses textos, poderia
ser transportado pelo ar dentro do plástico-bolha.
Ao desmentir essa informação falsa, o
Ministério da Saúde destaca que não há evidências de que isso possa
ocorrer, "já que vírus geralmente não sobrevivem muito tempo fora do
corpo de outros seres vivos, e o tempo de tráfego destes produtos
costuma ser de muitos dias".
Igor Sacramento lamenta que, além de
confundir a população sobre a prevenção, a desinformação sobre o
coronavírus também tenha espalhado preconceitos contra chineses e seus
descendentes, com fake news que atribuíram à doença uma falsa origem
étnica.
"O que a gente vê no processo de construção
social de uma doença é o quanto ela revela traços de uma sociedade e de
mudanças sociais profundas. No caso do coronavírus, revela o contexto
que a gente vive de enorme desinformação", diz o pesquisador. (Agencia Brasil)
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