Desde que a pandemia de Covid-19
começou a se espalhar pelo mundo, uma pergunta não para de aparecer: eu
devo usar máscaras? Mas a resposta não é tão simples assim. Embora seja
uma visão comumente relacionada com pandemias, o uso de máscara não é
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), nem pelo Ministério da Saúde do Brasil nem pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Mas especialistas em saúde pública da China discordam.
Em entrevista à revista Science,
George Gao, diretor-geral do Centro de Controle e Prevenção de Doenças
da China, diz que o maior erro do Ocidente na batalha contra a Covid-19 é
não incentivar o uso de máscaras de proteção em massa. O posicionamento
é defendido por outros cientistas consultados pela revista, tanto na Ásia como em outros lugares do mundo.
Como já explicamos na SUPER,
a lógica do uso de máscara não é impedir que você contraia a doença. A
Covid-19 se espalha através de gotículas expelidas por uma pessoa
infectada através de espirros, tosses ou mesmo na fala. Essas gotículas
acabam sendo levadas à boca, ao nariz ou aos olhos de pessoas saudáveis
através mãos (tocamos nosso rosto 23 vezes por hora, em média). A partir
daí, o vírus entra no corpo e inicia o processo de infecção.
Sabe-se que o SARS-CoV-2 até pode
ficar no ar em forma de aerosol (gotículas flutuantes), mas contrair a
doença apenas respirando essas partículas é algo raro, pelo menos ao que
tudo indica até agora. O que parece trazer a doença mesmo é o contato
direito com as gotículas. Por isso as medidas mais eficazes para conter o
vírus são a higienização constante das mãos, evitar tocar o rosto e
manter o distanciamento social.
E também por isso que a OMS, o CDC
americano e o Ministério da Saúde recomendam que apenas pessoas com
sintomas da doença devam usar máscara – o intuito é evitar sair
espalhando gotículas infectadas por aí. A máscara seria, então, uma
maneira de proteger os outros, e não a si próprio.
O problema é que, ao contrário do que
se pensava no início da pandemia, agora já temos evidências suficientes
para afirmar que a Covid-19, diferentemente de outras doenças causadas
por outros coronavírus, como a SARS e a MERS, consegue ser transmitida
mesmo quando o paciente está assintomático. Ou seja, uma pessoa pode nem
saber que está infectada e já estar contaminando outras pessoas. O uso
de máscara generalizado, então, impediria que essas pessoas saíssem por
aí espalhando gotículas cheias de vírus.
É por isso que muitos países da Ásia
encorajaram o uso de máscaras durante a pandemia. Em Wuhan, por exemplo,
o uso se tornou obrigatório no auge da crise. Outros países, como Irã e
República Tcheca, adotaram recentemente a mesma medida. Antes mesmo do
novo coronavírus, aliás, o uso de máscaras era algo comum em países
asiáticos, exatamente pelo senso de não sair espalhar gripes e
resfriados. No Ocidente, porém, o uso de máscara sempre foi incomum.
Mas também há boa uma razão para que
autoridades de saúde ocidentais tem sido cautelosas sobre o uso de
máscaras: a demanda. Desde o início da pandemia, a busca por máscaras em
farmácias aumentou em todo o mundo, e houve falta do produto até em países asiáticos,
onde a produção é muito maior do que no Ocidente, dados os hábitos
culturais. A China mesmo teve que mais que quintuplicar sua produção
diária de máscaras – a capacidade foi de 20 milhões para 110 milhões em fevereiro.
Por aqui, a preocupação é que a busca
exagerada gere escassez do equipamento de proteção para quem mais
precisa: profissionais da área de saúde que estão a todos os momentos em
contato com doentes. E já há mais de 4 mil denúncias de falta de máscaras em serviços de saúde pelo Brasil, segundo apurou uma reportagem do Fantástico.
Por isso, muitas pessoas estão optando
por utilizar máscaras improvidas, feitas em sua maior parte de tecido.
Elas não são tão protetivas como as profissionais, mas já ajudam a
evitar espalhar o vírus por aí.
É esse inclusive o posicionamento
oficial do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Essa questão de
máscaras, se temos poucas, vamos deixar para os enfermeiros, médicos. Se
for para sair e ir até a unidade de saúde para confirmar, usa uma
máscara de pano, confecciona a sua máscara”, disse, em coletiva no dia
19 de março. “Poupe o material de saúde para os enfermeiros e médicos”.
Super Interessante
Nenhum comentário:
Postar um comentário