segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A Missa de São José

Eu costumo dizer que noticiar um fato é muito fácil. Qualquer um está apto a narrar um acontecimento respondendo às questões básicas: O que? Quem? Como? Quando? Onde? E Por quê? Identificar o que é notícia também é fácil. Por exemplo. Se cão morde alguém na rua, isso não é notícia, é fato corriqueiro. Mas se alguém morde um cão, isso, sim, é notícia, porque é algo fora do comum.

O difícil é ir além da notícia. Saber que acontecimentos periféricos ao fato em si contribuíram para que ele acontecesse. Saber quais interesses podem estar envolvidos. Saber que conseqüências aquele acontecimento pode gerar. Para saber dessas coisas um jornalista tem que estar sempre muito bem informado sobre tudo o que acontece. E em alguns casos, ele tem que ter muito conhecimentos gerais, muita cultura.

Isso se adquire com o tempo, com muita vivência, com muita leitura de livros, revistas e jornais. Ninguém sai da faculdade pronto. Quem se forma sai cheio de conhecimentos técnicos, mas lhe falta a experiência de campo e conhecimento suficiente para identificar correlações entre os acontecimentos, que sempre estão recheados de interesses ou questões que contribuíram para que ocorram.

A faculdade, o diploma, não torna ninguém mais inteligente, ela apenas dá as ferramentas necessárias para o que profissional ao se formar possa trabalhar. Com o tempo ele vai adquirindo experiência, conhecendo “macetes” que facilitam o seu trabalho. Uma boa dica para quem está começando eu dou de graça: Faça arquivo. Principalmente se você quer se especializar em algum setor. Por exemplo, o setor policial. Abra pastas e armazene nelas informações sobre comandantes de batalhões, delegados, agentes, bandidos. Guarde tudo que for publicado sobre este ou aquele elemento notório que aparece no centro do noticiário. Mais tarde verá quanto isso lhe será útil.

Quanto ao conhecimento cultural, isso já é uma outra coisa. Têm que vir lá de trás, da base da escola, com muita leitura de livros, jornais e revistas. Até cinema e TV também são grandes fontes para se adquirir conhecimento. E acreditem, isso ajuda pacas. Não fosse assim, um jornalista não teria afirmado, em tom professoral, que a relação consangüínea entre seres humanos (pai com filha, filho com mãe, irmãos e irmãs), o chamado incesto, não dá nenhum problema.

“Isso é invenção da igreja para justificar a criação do pecado”, afirmou o ignorante, levando milhares de pessoas a acreditar nisso, quando até um matuto lá da roça, sabe que se deixar o reprodutor do seu rebanho cruzar com as próprias filhas, vão nascer filhotes atrofiados. Sobre isso, um médico certa vez, me disse: “A ciência ainda não sabe por que isso acontece (talvez hoje já saiba), mas acontece. E por isso busca-se evitar as relações consangüíneas. Não se trata de questão moral ou religiosa, mas de precaução médica para que não nasçam filhos com defeitos genéticos”.

Um pouco de conhecimento e atenção não faz mal a ninguém. Mas quando não se possui nem um nem outro acontece o que aconteceu com uma colega nossa que entrevistou o nosso saudoso Monsenhor Renato Galvão sobre a tradicional Missa de São José. Ela estivera com ele no dia anterior, e fui lá no seguinte, bem cedo, para também fazer uma entrevista com ele.

Como sempre, ele me recebeu muito bem, mas me disse que estava chateado com a minha colega. Eu quis saber por que e ele me explicou:

“Ela esteve aqui ontem para me entrevistar sobre a tradição da Missa de São José. E eu expliquei pra ela que a Missa de São José remonta aos tempos de Padre Ovídio de São Boaventura, que foi pároco da igreja de Santana, e que foi quem começou a celebrar uma missa no dia de São José, que ocorre a 19 de março de cada ano. Contei tudo a ela, mas, quando eu abri o jornal hoje pela manhã tomei um susto. Ela disse que quem iria celebrar a Missa de São José seria Padre Ovídio de São Boaventura...” .

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