quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O povo quer Zé Bidé

 

    
José Carlos Barbosa era o nome de batismo, mas se procurasse por ele dizendo esse nome, ninguém saberia de quem se tratava, embora fosse um dos habitantes mais populares de Feira de Santana, que atendia pelo apelido de Zé Bidé. Natural da vizinha cidade de Anguera, mudou-se para Feira de Santana ainda jovem. Eu o conheci quando ele foi trabalhar na Visão Moda Masculina, a loja que ditava a moda masculina em Feira de Santana na década de 70. Era um excelente vendedor. Como era muito popular, bem enturmado nas rodas sociais da cidade, contador de estórias e ótimas “tiradas” humorísticas, com o seu bom “papo de vendedor” defendia bem o seu pão de cada dia. E não era de ficar esperando o cliente vir a ele. Se dava um “paradeiro” nas vendas, enquanto outros resmungavam e se lamentavam, ele fazia um enorme pacote de roupas e ia visitar os clientes em seus locais de trabalho: “Olha graúdo! (dizia com sua voz rouca enquanto ia mostrando as peças) “Acabou de chegar na loja. Quando eu vi lembrei logo de você. É a tua cara”! E sempre vendia alguma coisa.

         Sua popularidade o levou a uma candidatura a vereador. Estourou de votos, mas não se elegeu, porque àquela época a legislação eleitoral não permitia o registro de candidatos pelo apelido, e o povo havia votado escrevendo Zé Bidé na cédula eleitoral, e não José Carlos Barbosa. Mas a família viria a ter muitos anos depois, um representante na Câmara Municipal com a Eleição de Antônio Joel, também conhecido pelo apelido de “Tonhe Piniquim”. Uma família sanitária. Mas, brincadeiras à parte, dois irmão, unidos, mas personalidades totalmente diversa. Zé Bidé era boêmio, namorador, amava o jogo de cartas, enquanto Antônio Joel era família, trabalho e só jogava por diversão. Zé Bidé jogava apostando. E embora fosse um sujeito boa praça, quando perdia no jogo ficava raivoso e briguento. Quando não com os adversários, brigava consigo mesmo. Eu o vi diversas vezes mordendo e rasgando cartas, ou quebrando e jogando fora pedras de dominó.

         Eu, é claro, preferia sua versão “light”, a versão boêmia que o fazia saudosista ao ouvir uma bela canção antiga. Certa vez o som ambiente da loja tocava uma música antiga de Gal Costa, ele me falou sobre como a música marca nossas vidas. “Essa música me marcou, graúdo. Me lembra um dos melhores momentos da minha vida”, disse, quase suspirando. Mas no instante seguinte, voltava a ser o gaiato e gozador de sempre. Naquela época, se alguma moça da cidade era desvirginada, logo todo mundo ficava sabendo. E foi assim que eu fiquei sabendo de um caso desses e comentei com ele, se era verdade o que andavam dizendo, se ele sabia de alguma coisa. “É verdade graúdo, e tá prenha”. Eu, um tanto incrédulo, achei de questionar se ele tinha certeza. E ele, com um sorriso maroto no canto da boca, falou: “Bem... Pode ser que a família tenha dado pra ela beber um copo de óleo de rícino e já saiu tudo junto com a merda”!

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