domingo, 10 de janeiro de 2021

Alguém debaixo da cama!

Na zona rural hoje já não é assim. Tudo mudou. O jegue, tão amado no passado e muito mais necessário do que amado, deu lugar às motos, a loré (alpercatão) já não existe. O fumo de corda, as cartas e envelopes são desconhecidos pelos jovens. Fogão de lenha, panela de barro, café caldeado, o que é isso meu tio? Tudo mudou. Dor de barriga, cólica, dente inchado, estropiamento, tudo era curado com chá e todo mundo era mais feliz! Mas também tinha coisas difíceis de resolver, como picada de cobra, “mulher preguiçosa” e birutice. E ai, às vezes, nem o melhor chá resolvia. Albertão da Farinha, cabra grandão e maneiro, começou a cismar que tinha alguém debaixo de sua cama. Da mulher, dona Marilda, ele não desconfiava e ninguém na vila, era correta até lavando roupa no riacho!

Albertão deu pra dormir com um porrete na cabeceira da cama. Tinha noite que ele acordava gritando “sai daí seu miserável” e mergulhava debaixo da cama com o porrete e nada. Deu pra andar pra lá e pra cá o dia todo empunhando o pesado porrete de madeira de lei. “Tá maluco” era o que se ouvia dele, já andando barbudo e mais magro. Foi aí que dona Divina, uma boa amiga de dona Marilda assoprou: “O homem tá doido mesmo comadre, mas na cidade agora tem um doutor que está curando tudo que é birutice”. 

 E pra lá levaram, não muito satisfeito, o pobre Albertão. “Deite-se ai  meu amigo, vamos conversar”. E falaram sobre infância, namoros, trabalho, amigos, dum-dum-dum com a mulher e, nada de anormal. Então o doutor Evandro passou alguns medicamentos e marcou “dentro de 30 dias, olhe lá, 30 dias quero você aqui para a revisão!” Dito e feito, 30 dias lá estava o Albertão. Barba feita, mais gordo, esbanjando felicidade  ao lado da mulher.  E o médico “muito bem, aparência ótima, tomou todos os medicamentos?”. “Nem foi necessário doutor, estou tinindo novamente”. E o médico sem entender, “mas não havia alguém sob sua  cama?” e Albertão “era doutor, mas meu compadre Cristovam resolveu!” E como assim? “Foi simples doutor, ele cortou as pernas da cama!”

 

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