quinta-feira, 25 de março de 2021

O amor nos tempos do Corona

         

        Eu vivo aqui no meu recanto com Maura, e nunca me dei conta dos problemas de quem vive só. Mas ao longo dessa pandemia tenho recebido relatos de amigos e amigas sobre os efeitos do isolamento na questão sexual. Uma amiga há algum tempo me disse que estava a ponto de sair de casa e agarrar o primeiro homem que encontrasse e, se ele não a quisesse, ela o estupraria. Estava brincando, é claro, mas acendeu o alerta no meu cérebro de que nem todo mundo tinha, como eu, a felicidade de ter um companheiro ou companheira com quem dividir as horas do dia a dia e amainar um pouco a tensão (e tesão) acumulada pelos dias de isolamento.

         Um amigo me disse, quase chorando, que nunca tinha percebido que suas mãos gostavam e eram tão apaixonadas por ele. “Parceiras de fé! – Afirmou. E por aí foram os relatos e queixumes, até que uma amiga, quase em desespero, me confidenciou que o stress dela não era resultado de outra coisa senão “a falta de uma rola”. Quando pessoas tímidas, recatadas, discretas, começam a expressar esses sentimentos, é porque a coisa está muito séria. E foi assim que eu me lembrei da piada sobre um prefeito que, cansado de receber queixas sobre a libertinagem reinante nas vias públicas publicou um decreto, proibindo a bolinagem e estabelecendo multas para os casais que fossem flagrados com a “mão naquilo”, “aquilo na mão”, e por aí vai. Mas, no caso da pandemia do Coronavírus, não precisa de decreto nem de multa. O medo faz o serviço.

         Quando veio o surto de AIDS, a Camisinha era a única proteção. Mas, com o Corona não tem colher de chá. Não se pode colocar nem a mão na mão, sem risco de contágio, quanto mais a mão naquilo ou aquilo na mão. Não senhor. Nada disso. Tem que ser um leve toque com os nós dos dedos ou dos cotovelos, e olhe lá. Aquilo naquilo, aquilo atrás daquilo, pode ser sentença de morte, e nem precisa de delegado, promotor, juiz ou júri. O Corona se encarrega de tudo. Beijo? Que beijo? Não se pode ter contato com as mãos quem dirá com as bocas. Cê tá louco? Mas, também não exageremos. Um amigo meu que mora na zona rural, me disse que o amigo dele foi olhar para a mulher do vizinho com más intenções e contraiu o vírus. Peraí... Alto lá! Se esse cara pegou mesmo o vírus com a mulher do vizinho, ele fez mais que olhar. Não vamos exagerar, porque certas desculpas não colam.

         De certo mesmo é que agora as pessoas descobriram qual a importância de se ter companheiros ou companheiras fiéis. Porque, como disse o poeta, “A solidão é fera, a solidão devora”. Mas, calma, como disse Jesus, “isso também passará”. E quando passar talvez possamos dar valor a coisas que há muito havíamos negligenciado, e aqueles que sofreram com a solidão, possam ser mais “solidários” uns com os outros, compreendendo suas necessidades. Com calma, porque as doenças sexualmente transmissíveis, ainda estão por aí, à espreita dos incautos e apressados.

Um comentário:

Unknown disse...

Rir muitoooo! E é muito verdadeiro.Tomara que o ser humano mude realmente,admiro vocês,acho que,se herdamos algo de uma prima,de segunso grau,😂eu tenho essa herança de Maura,o amor e a cumplicidade entre um casal,faz toda a diferença. Parabéns e que Deus continue abençoando vocês👏👏👏