sábado, 20 de março de 2021

Perna de pau em lugar de DNA

 

Que era valentão todo mundo sabia. Leonídio já se envolvera em muitas confusões, desde a infância, geralmente levando a melhor, mas também já amargara algumas derrotas contundentes. A perna de pau era prova viva disso. Metera-se em uma contenda, há muito tempo, com um viajante, alto, branco, elegante que “não aguenta um trompaço” e o resultado fora uma bala na “batata” da perna esquerda.

Tempos bicudos. A saída foi uma perna de pau, que lhe tornou mais impaciente e briguento. Era como uma marca, um troféu que os outros deviam respeitar. Pelo menos era o que parecia. Ai meteu-se com a Belinha, uma morena bonita que, todos sabiam, andava se afogueando com o Belisário de Saturnino. Gente de boa posse e de andança livre pela praça.

Ninguém entendia a moça Belinha, mas como diziam que mulher gosta mesmo é de homem “machão”, que briga, que bate, que faz e acontece, talvez fosse essa a razão. Já Belisário, embora não fosse de correr de uma parada, não vivia em arruaças. O tempo foi passando e Belinha em fogo cruzado. Começou a usar cintas, apertar a barriga, usar vestidos folgados e a plateia a se dividir. Do sétimo mês em diante não havia como disfarçar. A barriga crescia aos pulos e as dúvidas também.

“É de Belisário” diziam uns. “É de Leonídio” diziam outros, de acordo com a simpatia  ou amizade com os protagonistas. Surgiram torcidas organizadas e até bolsas de apostas. O momento se aproximava, rapidamente e a curiosidade também, mas faltava saber quem era o pai e como na época não existia o teste de DNA, só  mesmo “depois dos 90 minutos”. Já na decorrência do oitavo mês, mesmo conhecendo o temperamento de Leonídio, Zé Rosa encheu-se de coragem, o que lhe valeu uma rodada de Sete Fazendas no bar de  Romão, e depois de estralar a língua foi direto ao assunto: “Leonídio, você é nosso amigo, mas diga ai, quem vai tomar conta dessa criança. Quem é o pai, você ou Belisário?” E Leonídio sem pestanejar: “Se nascer homem e com uma perna de pau é meu. Ai eu tomo conta!”.

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