quinta-feira, 17 de junho de 2021

Fazendo de tudo um pouco

     Tudo era apenas uma brincadeira, que foi crescendo, crescendo, e quando eu percebi, ao contrário de Peninha, eu caí fora. Nunca levei nada muito sério, até a uma certa altura da minha vida adulta. Nunca me prendi verdadeiramente a nada nem a ninguém. Me obriguei a casar e ter filhos muito cedo, por motivos que não vale aqui ressaltar, mas o que eu tinha mesmo era muita ânsia de viver solto no mundo. Eu gostava de me divertir, aproveitar o que a vida poderia me oferecer, viajar, conhecer lugares e pessoas, ser feliz. Esse era eu. Pra ganhar a vida fiz de tudo um pouco. Consertava eletrodomésticos, fazia balões juninos para vender, trabalhei como office boy, vendedor de confecções, peão de fábrica, dei aulas particulares de Inglês, depois numa escola pública, vendi leite, fabriquei queijos, tudo isso antes de cair de paraquedas na redação de um jornal. Casado e com filhos, trabalhando e ainda estudando, reprimi meus sonhos, mas nunca perdi uma chance de dar uma escapada. “Irresponsável”. Milhares de vezes ouvi isso e milhares de vezes não dei a mínima pra ninguém. Sempre fui dono de mim e assumia as consequências dos meus atos.

E nessa vida de fazer de tudo um pouco eu, que encarava a política como o torcedor de futebol que escolhe um time que, pra ele, será sempre o melhor do mundo, eu ia torcendo e votando nos meus “jogadores” preferidos, até que me vi envolvido em uma campanha política. E lá se vão quase 50 anos. Só assim descobri que política é coisa muito séria. E eu que vivia no embalo do combate ao governo Médici, o período mais sanguinário da ditadura militar, era eleitor da esquerda de quatro costados. Mas, ironia do destino, por questões familiares, fui trabalhar na campanha de um candidato da direita. Graça divina. Finalmente pude compreender o que significa conhecer os dois lados de uma moeda. Não era apenas um questão de torcer por um candidato do partido que escolhi, mas era necessário conhecer e avaliar os candidatos para escolher o que julgasse melhor. Perdi a eleição e, mais uma graça divina, acabei indo trabalhar no governo do candidato que ganhou. Àquela altura, eu já argumentava que o dinheiro de um era tão bom quanto o do outro, e eu precisava dele para sustentar minha família. E percebi entre o que perdeu e o que ganhou, a bem da verdade, o que ganhou tinha mais prós do que contra na minha avaliação de caráter. Então, estava tudo bem.

Quando veio o pluripartidarismo, ficou mais claro quem era quem naquele tabuleiro de xadrez, e minhas escolhas foram ficando mais fáceis. Aí eu já não votava no partido (o partido é o que menos importa) eu votava no candidato, fosse de que partido fosse, que eu julgasse que atenderia melhor às minhas expectativas. Isso me fez notar uma coisa intrigante: Meus amigos, alguns deles, não todos, antigos “correligionários”, não pensavam assim. Havia uma dificuldade neles de entender o que eu entendi. Cismei com aquilo muito tempo, até que descobri que a cegueira, na maioria, era por incapacidade intelectual. Outros por cega posição ideológica, e outros tantos por ouro oportunismo e malícia. Para estes últimos, importava apenas manter suas posições conquistadas, fosse qual fosse o cenário político. Aliás, é assim até hoje.

Em todos estes anos, surgiram vários “Salvadores da Pátria”. Alguns chegaram a ensaiar alguns acertos, em consonância com as aspirações populares. Mas logo voltaram às velhas práticas do roubo, da mentira, e das promessas vazias. Mas, eu sou brasileiro e não desisto nunca. Ainda acredito no meu País, em Deus, e ainda tenho esperança de dias melhores.

P.S. Mas não leve tudo muito a sério. Afinal, nascemos de uma “gozada”.

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