Em algumas famílias, tirar os sapatos é
um ritual obrigatório para entrar em casa. Nenhuma partícula de sujeira
da rua deve estar no ambiente limpinho do lar. Em muitas culturas, idem
– usar sapatos dentro de casa no Japão ou na Rússia é um sacrilégio
mortal. Para muita gente, porém, pouco importa por onde a visita passou,
qualquer um pode entrar de sapato. Afinal de contas, quem está certo
nessa história?
Vamos ver. As solas carregam,
sim, bactérias, mas é pouco provável que algum morador da casa contraia
uma infecção em decorrência dos sapatos sujos. Onde quer que a gente
vá, um pouquinho de sujeira gruda nos sapatos. Alguns lugares são piores
que outros — um banheiro público, por exemplo, abriga quase 13 milhões
de bactérias por centímetro quadrado.
Um dos principais estudos
sobre o assunto foi feito em 2008 pela Universidade do Arizona e
alarmou a população. Ele monitorou os sapatos de dez pessoas durante
duas semanas e verificou grande ocorrência da bactéria E.
coli, que pode causar doenças digestivas e urinárias. A maior parte
dessas bactérias, no entanto, é inofensiva e faz parte do nosso trato
intestinal.
Mas vale destacar alguns detalhes do
estudo: além de ter uma amostragem muito pequena (somente dez
indivíduos), a pesquisa não foi publicada em um periódico que usa
revisão por pares. Ela também foi feita em parceria (e financiada) por
uma empresa de calçados que, não coincidentemente, estava lançando um
novo sapato que poderia ser limpo na máquina de lavar.
As bactérias só apresentam um risco real se a pessoa
tocar a sola dos sapatos e em seguida colocar a mão no rosto ou na boca.
É mais efetivo prestar atenção em outros objetos.
Em 2014, outra pesquisa
foi feita. A Universidade de Houston investigou a presença da bactéria
C. difficile em 30 casas. De todos os itens da casa, a bactéria estava
mais presente nos sapatos. No entanto, os próprios autores do estudo
ressaltam que isso não é motivo para alarde: “Para um indivíduo
saudável, as bactérias do sapato apresentam um risco mínimo ou nenhum
para a saúde”, diz o pesquisador Kevin Garey ao LiveScience.
As bactérias só apresentam um risco
real se a pessoa tocar a sola dos sapatos e em seguida colocar a mão no
rosto ou na boca. Como dificilmente entramos em contato direto com o
chão, não há tanto com o que se preocupar. Comer alimentos que caíram no
chão é uma forma muito mais fácil de contrair infecções do que esquecer
de tirar o sapato.
Os sapatos normalmente não saem de
perto do chão. É mais efetivo prestar atenção em outros objetos.
Qualquer pessoa pode facilmente deixar uma bolsa ou uma mochila no chão e
em seguida colocá-la em cima da mesa da cozinha ou da cama.
Segundo o microbiologista Donald Schaffner, em entrevista ao New York Times,
existem formas muito piores de carregar germes para dentro de casa,
como através das mãos. Assento do metrô, dinheiro e caixa eletrônico são
apenas alguns exemplos de itens em que todo mundo coloca a mão e nunca
são lavados.
A situação muda quando existe um bebê
morando na casa. Quando a criança está aprendendo a engatinhar, ela fica
em contato com o chão e pode facilmente colocar a mão na boca ou até
encostar o rosto no piso. Nesse caso, tirar os sapatos antes de entrar
pode prevenir algumas infecções na criança.
A prática também faz sentido se
houverem pessoas alérgicas ou com a imunidade reduzida dentro de casa.
Um indivíduo com alergia severa ao pólen, por exemplo, pode ter uma
reação simplesmente por respirar partículas presentes no carpete.
Se você está procurando deixar a sua
casa livre de doenças, lavar as mãos frequentemente ainda é a melhor
forma de evitar infecções. Isso não quer dizer que não existam diversas
bactérias fecais nos seus sapatos — elas estão lá, mas representam muito
mais um nojinho do que uma ameaça real. (Super Interessante)
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