sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Um país sem graça

           

O Brasil sempre foi um país bem-humorado. Desde os seus primórdios jornalistas e escritores já usavam seus talentos para fazer as pessoas rirem. Um dos mais famosos humoristas brasileiros, embora não fosse exatamente humorista, ficou conhecido como tal foi Aparício Torelli (o Barão de Itararé). O seu próprio codinome já uma piada, pois não existia tal título de nobreza na sociedade brasileira. Ele mesmo inventou o título, aludindo a uma batalha entre o Brasil e o Paraguai que nunca existiu.

         Conta-se que, ainda estudante de medicina, um professor perguntou-lhe: Quantos rins nós temos? E ele de pronto respondeu: Quatro. O professor retrucou feroz: Que barbaridade! Tragam-me um feche de capim! E ele completou: Para mim um cafezinho! Enfurecido o professor o colocou para fora da sala. Ele, antes de deixar o recinto, disse: O senhor tem dois eu tenho dois. Então nós temos quatro! Bom apetite!

         O humor brasileiro floresceu no cinema e no teatro e depois na TV, através de Oscarito e Grande Otelo. Na literatura através de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) e Péricles (o criador do amigo da onça) e alguns escritores como Fernando Sabino, Rubem Braga, Millôr Fernandes entre outros. Mas, foi no rádio e na tv que surgiram os maiores humoristas brasileiros.

         A maioria dos grandes humoristas brasileiros tem origem principalmente no Rio de Janeiro, estados do Nordeste como Ceará, Pernambuco e Bahia, Minas Gerais, e interior de São Paulo. Exemplo:

 Otelo Velame, Manoel de Nóbrega, Mazzaropi, Chico Anízio, Mário Tupinambá (Bertoldo Brecha), Agildo Ribeiro, Renata Fronzi, Zezé Macedo (dona Bela), Orlando Drumont (seu Peru), Costinha, Nair Belo, Zilda Cardoso (Catifunda), Valter D’ávila (Sinfrônio), Ema D’ávila, Rogério Cardoso, Jô Soares, Dercy Gonçalves, Paulo Silvino, Os Trapalhões, Ronald Golias e muitos outros.

         Estes artistas fizeram sucesso por décadas. Apresentando-se em circos, praças públicas, teatros, e onde quer que houvesse um palco para exercerem sua arte e divertir as pessoas. O tempo e as mudanças comportamentais do povo brasileiro permitiram que os palavrões fossem inseridos nos textos humorísticos, baixando o nível e afastando as plateias mais conservadoras. A partir dali o humor brasileiro entrava em decadência. Os bons humoristas foram desaparecendo do cenário dando lugar a uma categoria mais baixa de artistas que não sabiam se fazer engraçados e apelavam para os palavrões e cenas obscenas para fazer a plateia rir.

         Aqui e acolá ainda se encontra alguém que sabe nos fazer rir sem apelar para a obscenidade. Mas, está cada vez mais difícil de encontrar um bom humorista. A bem da verdade, até mesmo estes apelativos já não fazem tanto sucesso. Com isso os filmes, revistas e programas de humor estão cada vez mais escassos. O pior de tudo isso é que nossa vida tem piorado muito e nós nem mesmo conseguimos rir dos nossos infortúnios. E olha que uma das principais características do brasileiro era saber rir de si mesmo.

Perdemos a piada!  

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