sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Hipertensão: por que a pressão '12 por 8' passou a ser considerada alta por médicos

 

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e no mundo (Getty  Images)

A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, publicada em setembro, apertou as metas sobre a pressão considerada ideal, ou saudável.

A partir de agora, o tradicional 12 por 8 — antes considerado um valor normal, ou "limítrofe" — já passa a ser considerado um quadro que merece atenção de profissionais da saúde.

O novo documento segue a mesma linha de outros consensos publicados recentemente, como é o caso de uma nova abordagem de tratamento adotada por médicos europeus a partir de 2024.

A nova diretriz assinada por diversos especialistas da área simplifica alguns conceitos e recomenda um tratamento mais intenso logo nos primeiros estágios da doença.

Em resumo, as metas de pressão ficaram assim:

  • Pré-hipertensão: entre 120 por 80 mmHg e 139 por 89 mmHg (de 12 por 8 a "quase" 14 por 9).
  • Hipertensão arterial: maior que 140 por 90 mmHg (acima de 14 por 9).
  • Vale destacar que esses números levam em conta a medida da pressão feita no consultório, por um especialista, em pelo menos duas ocasiões.

    O número mais alto corresponde à pressão do sangue nas artérias quando o coração bate, conhecida como pressão arterial sistólica.

    E o número mais baixo é a pressão entre as batidas, conhecida como pressão arterial diastólica.

    Com isso, uma pressão normal passa a ser aquela que fica abaixo de 119 por 79 mmHg, num número que fica mais ou menos no popular 11 por 7.

    Segundo a diretriz, o objetivo é intensificar o tratamento em estágios iniciais, para que a pressão arterial fique dentro da meta especialmente entre pessoas com risco aumentado de doenças cardiovasculares.

    Como você vai entender ao longo da reportagem, as novas classificações também alteram os esquemas de tratamento medicamentoso e os cuidados de estilo de vida.

  • Um problema monumental

  • O descontrole da pressão arterial é o principal fator de risco por trás de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

    "As doenças cardiovasculares são as que mais matam no Brasil e no mundo. No nosso país, por exemplo, uma pessoa morre a cada 90 segundos por causa de algum problema no coração ou nos vasos sanguíneos", estimou o médico Fábio Argenta, membro do Conselho de Ética Profissional e do Comitê de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em entrevista à BBC News Brasil em outubro de 2024.

    "A hipertensão é o principal fator de risco não apenas para infarto e AVC, mas também está relacionada com insuficiência cardíaca, insuficiência renal, cegueira e até demência", pontuou o especialista.

    E é curioso pensar como algo tão relevante — e tão frequente — não chama a atenção e não é visto como uma grande ameaça pela maioria das pessoas.

    O médico Carlos Alberto Machado, assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), calcula que quase 1,2 bilhão de pessoas sofrem com a hipertensão no planeta.

    "O grande problema é que mais da metade nem sabe que é hipertensa. Entre aquelas que sabem, só metade faz o tratamento. E entre quem faz tratamento, apenas metade tem a pressão controlada", resumiu o cardiologista.

    Para o especialista, as mudanças nas diretrizes europeias anunciadas em 2024 ajudaram a chamar atenção para o aumento da pressão arterial, mesmo que ela ainda não tenha alcançado os índices compatíveis com um quadro de hipertensão.

    "Eles reforçam que esse risco cardiovascular já começa com uma pressão relativamente baixa", disse ele.

    "Precisamos levantar a bandeira de que o adequado não é mais o 12 por 8", complementou Argenta.

    A estratificação de risco da pressão alta

    Mas o que todas essas mudanças de critérios significam na prática?

    Para aqueles que estão com a pressão arterial dentro dos valores adequados (abaixo de 12 por 7, em média), vida normal: não é preciso fazer nada em específico.

    Para os hipertensos, não há dúvidas de que é necessário começar um tratamento medicamentoso, além de incentivar uma série de mudanças no estilo de vida — sobre as quais falaremos adiante — para diminuir o risco de vários problemas de saúde.

    Já para os que estão com a pressão acima de 130 por 80 mmHg (13 por 8) — a recomendação da nova diretriz é passar pela chamada "estratificação de risco".

    Em resumo, o médico vai avaliar uma série de indicadores de saúde para estimar a probabilidade de o indivíduo sofrer algum desfecho cardiovascular mais grave (como infarto ou AVC).

    Na hora de fazer essa conta, os especialistas consideram questões como o diagnóstico de outras doenças cardíacas ou a presença de outras enfermidades crônicas, como diabetes tipo 2, colesterol elevado, obesidade…

    Se o risco de o paciente sofrer algum desfecho cardiovascular nos próximos anos for mais baixo, a recomendação é promover uma série de mudanças de estilo de vida e reavaliar a pressão arterial em um ano.

    Agora, se esse risco for mais elevado, o documento indica fazer as mudanças de estilo de vida e, após três meses, iniciar o tratamento medicamentoso para os indivíduos cuja pressão seguir acima de 130 por 80 mmHg.

    Já para o grupo em que risco é médio e merece uma série de ponderações, o médico deve considerar fatores relacionados à etnia, sexo, deprivação socioeconômica, doenças autoimunes, entre outros, para definir o melhor caminho — pode ser necessário, por exemplo, testar as mudanças de estilo de vida por um ano ou fazer uma reavaliação após três meses para checar a necessidade de entrar com os remédios.

  • Click aqui e leia matéria completa no BBC News Brasil

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