Trabalhar em casa pode ser difícil. Além de ter que conciliar o
expediente com as tarefas domésticas, há também muitas distrações
(animais, filhos, a cama chamando para uma soneca) para atrapalhar – sem
contar a falta de motivação natural provocada pela quarentena.
Diante disso, muita gente tem recorrido à música, numa
tentativa de aumentar o foco e a produtiva durante as horas de labuta.
Numa busca rápida no Spotify, por exemplo, e você encontra playlists especificamente voltadas para isso, com milhares de seguidores.
Parceria duradoura
Misturar música e trabalho não é de hoje. Nos anos 1940, em plena
Segunda Guerra Mundial, a BBC lançou um programa de rádio chamado Music While You Work
(literalmente “Música Enquanto Você Trabalha”, em inglês). Por incrível
que pareça, era uma estratégia do governo britânico para incentivar a
produção de armas e munição.
As músicas eram tocadas ao vivo e transmitidas para as fábricas do
país, duas vezes ao dia. A ideia era que, com as canções, quem estivesse
trabalhando produzisse mais. Foi um sucesso: a BBC recebia diversas
cartas e relatórios elogiando o programa – em um desses feedbacks, um
gestor disse que, durante a transmissão, a produtividade aumentava em até 15%.
Desde então, a ciência estuda a relação entre música e trabalho. Um
dos casos mais famosos é o chamado “efeito Mozart”, que ficou popular a
partir de 1993, quando um jornal publicou que, após 10 minutos ouvindo
Mozart, um grupo de pessoas apresentou um desempenho maior na hora de
realizar determinadas tarefas.
Com isso, tornou-se padrão associar a música do compositor austríaco
como algo benéfico para o cérebro – e diversos experimentos demonstraram
que, de certa forma, isso poderia ser verdade. Em uma pesquisa, ratos
que foram expostos a 10 horas diárias da composição “K.448”, por dez
semanas, foram significativamente melhores em navegar por um labirinto
complexo em comparação àquelas que ouviram a música “Für Elise”, de
Beethoven.
Além disso, recentemente, um estudo mostrou que músicas com ritmo acelerado podem aprimorar os efeitos
dos exercícios físicos, reduzindo a sensação de esforço e aumentando a
frequência cardíaca. Uma outra pesquisa, da Holanda, sugeriu que músicas
podem ajudar quem está com bloqueio criativo: os voluntários se deram melhor em testes que exigiam pensamento “fora da caixa” quando estavam ouvindo canções felizes.
Não é bem assim
Mesmo com tudo isso, a resposta para a pergunta “Ouvir música no
trabalho traz benefícios?” ainda é: depende. A ciência ainda não chegou a
uma conclusão sobre isso, justamente porque a recepção das pessoas é
algo muito variável. “Depende de muitos fatores, como o tipo de
trabalho, o gênero da música (e o quanto de atenção está sendo dado para
ela) e a própria personalidade de alguém”, explica à BBC a musicista Karen Landay, que pesquisa sobre o tema.
Um estudo de 2011 defende que colocar uma música ao fundo para tocar
compromete o processo de leitura e memorização, mas melhora a capacidade
esportiva e as reações emocionais. O próprio efeito Mozart, não raro, é
posto à prova, e alguns sugerem que a música “K.448” só atingiu aqueles
resultados por ser uma composição mais animada que a de Beethoven.
Um manual para ouvir música no trabalho
A ciência pode nunca chegar a uma conclusão. Mas, seja como for, o
que importa no fim do dia é o impacto que a música tem na sua rotina. Se
ela funciona para você, continue escutando. E se você tem dúvidas em
relação a isso, vale a pena experimentar.
Pensando nisso, o jornal britânico The Guardian montou um
manual com dicas e boas práticas para quem gosta de ligar o som na hora
do expediente. Dá uma olhada nas principais recomendações:
Comece devagar
As primeiras músicas da sua playlist não devem te deixar em um estado
de maior produtividade, mas sim ajudá-lo a chegar lá. De manhã, nada
melhor como algo pacífico: canções como “Here Comes The Sun”, dos
Beatles, são boas pedidas.
Transições são importantes
Depois que você já aqueceu, é hora de partir para músicas mais
agitadas – canções com velocidade mais rápida da trilha podem resultar
em maior desempenho – como na pesquisa com exercícios físicos. A
sugestão é escolher músicas a 121 bpm (batidas por minuto). Exemplos:
“Call Me Maybe”, da Carly Rae Jepsen, “I Wanna Dance with Somebody”, da
Whitney Houston, e “I Will Survive”, de Diana Ross.
Cuidado com suas músicas favoritas
Nada melhor do que ouvir as músicas do coração, certo? Mas, segundo
especialistas, são elas que podem, justamente atrapalhar a sua
concentração. E vale o aviso: enquanto músicas animadas podem melhorar a
concentração (e o ânimo) para tarefas repetitivas, canções com letras
complicadas (ou que contam uma história) podem distrair trabalhos que
exigem mais do cérebro.
Esteja aberto a novos sons
Quanto a ouvir músicas cantadas ou apenas instrumentais, não há uma
resposta definitiva: tudo dependerá da sua personalidade. O mais
importante é testar novas músicas e playlists e guardar tudo o que
funciona para você. Esse, inclusive, é um trabalho cumulativo: ouviu
algo bom para trabalhar? Vá colocando em uma lista específica e, depois,
organize as faixas na ordem que preferir. (Super Interessante)
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