sábado, 19 de março de 2022

 


*Nem tudo está perdido*

 No alvorecer da década dos anos quarenta do século passado, quando eu estava inaugurando o mundo e fumar charutos era corriqueiro, foi moda mulheres cachearem seus cabelos. Eram as chamadas “ondulações permanentes”: as brancas “imitavam” as negras, êpa, as afrodescendentes.

 Então - como não havia o comportamento meio neurótico tido por politicamente correto - no carnaval de 1942, David Nasser com sua batucada “Nega do cabelo duro”, versava o capilar modismo feminino.

 Nega do cabelo duro

Qual é o pente que te penteia?

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Quando tu entras na roda

                            O teu corpo serpenteia

Teu cabelo está na moda:

Qual é o pente que te penteia?

 Dez anos antes, carnaval de 1932, Lamartine Babo e os Irmãos Valença, viraram sucesso com “Teu cabelo não nega”, outra música carnavalesca hoje classificada como politicamente incorreta.

 Transcorridos mais de oitenta anos, ressuscito tais reminiscências em tempos nos quais curtir charutos e encontrar cabelos duros ou cacheados, passou a ser raridade. Negras e brancas alisam e esticam seus cabelos a mais não poder - lindas trancinhas - verdadeiros ‘artesanatos capilares’ e fumar passou a ser proibido ou patrulhado.

 Os costumes mudaram.  Só não mudou a forma como as lindas negras da Bahia, praticam a magia do espalmar fumos sem rompê-los, transformando-os nos rolinhos de felicidade nas fábricas charuteiras do Recôncavo Baiano.

 Ainda bem, nem tudo está perdido.

 Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA. ([email protected])

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