O que une um
rapaz da zona sul do Rio e uma moça da zona rural que passou oito anos como
noviça?
A distância
entre eles diminui graças à paixão por números: o garoto da zona sul, Artur
Avila, se transformou no primeiro brasileiro ganhador da medalha Fields, uma
espécie de Nobel para matemáticos até 40 anos; a moça, Lucy Degli Esposti
Pereira, desistiu de ser freira, voltou a estudar e abocanhou quatro medalhas
em concursos nacionais.
Mas casos
assim ainda são exceção. O abismo da matemática no Brasil persiste, e os
resultados do país nos exames internacionais são sofríveis.
Dados de 2015
mostram que 70,3% dos estudantes brasileiros de 15 e 16 anos estão abaixo do
chamado nível 2 em matemática no exame do PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes), avaliação realizada pela OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Nesse nível,
espera-se que os jovens interpretem e reconheçam situações "em contextos
que não exigem mais do que uma inferência direta", ou extraiam informações
relevantes de uma única fonte e utilizem modos simples de representação. A
maioria dos alunos brasileiros não consegue fazer isso.
O nível 2, em
uma escala que vai até o 6, é o patamar que a OCDE considera necessário para
que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania.
A nota média
dos brasileiros em matemática no PISA 2015 foi de 377 pontos,
significativamente inferior à média da OCDE (490), que reúne as economias mais
desenvolvidas do mundo. E, embora a nota na área tenha subido 21 pontos de 2003
a 2015, caiu 11 pontos no intervalo entre os dois últimos exames (2012-2015).
No ranking geral do PISA, o Brasil ficou em 63º lugar entre 70 países
participantes.
Ex-noviça
Nota ruim em
matemática nunca fez parte da vida de Lucy Pereira, aluna de uma escola da zona
rural de Bom Jesus do Itabapoana, no noroeste fluminense. A jovem pensava em
ser freira e ficou dos 16 aos 24 anos como noviça numa instituição voltada para
a caridade. Depois que desistiu da vida religiosa, recomeçou os estudos no 6º
ano do ensino fundamental.
Um dia
disseram que havia uma prova nova, a Olimpíada Brasileira de Matemática de
Escolas Públicas (OBMEP), e ela resolveu fazer. Ganhou medalha de ouro.
Depois disso
vieram mais duas pratas e outro ouro, e Lucy entrou para o programa de
iniciação científica oferecido aos medalhistas pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia por intermédio do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada),
centro de excelência em pesquisas e pós-graduação no setor. O Impa é um dos
organizadores da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e realiza também a
OBMEP.
Lucy terminou
o ensino fundamental em 2016. Aos 31 anos, começou neste ano o ensino médio no
IFF (Instituto Federal Fluminense), onde faz curso técnico de agropecuária.
Seus pais, um motorista de transporte escolar e uma merendeira, têm dez vacas,
e ela quer ajudar a família a gerir o pequeno rebanho. Mas seu sonho mesmo é
fazer Engenharia Civil.
"Quando
saí do convento, estava depressiva e voltar a estudar já adulta parecia
difícil. A matemática me mostrou um rumo. Podem achar que passei da idade, mas
dá tempo ainda", afirma. Lei mais no BBCBrasil
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