terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Por que computação e engenharia são vistas como 'coisas de meninos' - e como mudar isso

 

Meninos e meninas moldam desde cedo sua percepção sobre os gêneros e estereótipos associados a determinadas atividades, aponta pesquisa (Getty Images)
A percepção de que áreas como ciências da computação e engenharia são mais "para meninos do que para meninas" começa a se enraizar bem cedo - as crianças reproduzem esses estereótipos já aos seis anos de idade.

E, quanto mais acreditam nesses estereótipos, menos as crianças demonstram interesse em fazer atividades associadas ao gênero oposto.

Nesse contexto, para atrair meninas para áreas tradicionalmente dominadas por homens, é preciso ir além de dizer a elas que "são capazes" de estar ali, e fazer com que sintam vontade de ocupar novos espaços.

Essas são algumas das conclusões de pesquisadores americanos ao estudar a visão de meninos e meninas sobre as atividades no campo conhecido como STEM - acrônimo em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

E, em última instância, essa percepção enraizada ainda na primeira infância pode influenciar decisões de carreira e limitar as opções profissionais de meninos e meninas, explica à BBC News Brasil Allison Master, professora assistente de Educação na Universidade de Houston (EUA).

Em um estudo publicado em novembro na Proceedings of the Nacional Academy of Sciences (PNAS), Master e seus colegas das universidades de Houston e Washington aplicaram questionários a cerca de 2,3 mil crianças nos EUA, desde os 6 anos de idade até a adolescência, de diferentes classes socioeconômicas e etnias, a respeito de suas percepções sobre atividades relacionadas às áreas de engenharia e computação (descritas a eles em termos compreensíveis para suas idades, como "criar grandes estruturar como pontes e estradas" ou fazer "códigos de computador").

De modo geral, 51% das crianças entrevistadas acreditavam que as meninas são menos interessadas que os meninos em atividades relacionadas às ciências da computação, porcentagem que subia para 63% nas atividades relacionadas à engenharia.

Em experimentos em laboratório, os pesquisadores também perguntaram às crianças se elas queriam participar de uma atividade - descrevendo esta ou como uma atividade "que as meninas gostavam menos do que os meninos" ou como uma atividade que "tanto meninos quanto meninas gostavam".

Ou seja, os pesquisadores "estereotiparam" a tarefa para ver se isso influenciava as escolhas das crianças.

E, aparentemente, influenciou: 80% das meninas escolheram a atividade que "meninos e meninas gostavam", e só 20% escolheram a atividade "preferida dos meninos". Essa disparidade não foi observada quando as crianças tiveram de escolher entre atividades que não foram estereotipadas.

Diante disso, os pesquisadores argumentam que a percepção de que uma atividade é favorita por um gênero faz o outro gênero se desinteressar por ela ou se sentir distante dela.

Isso se observa até nas crianças menores, que gostam muito de brincar com amiguinhos do mesmo gênero e que precisam que esses amigos validem seus interesses, explica Master.

"E quanto mais as meninas acreditavam nos estereótipos, menos elas próprias se interessavam por essas atividades ('dos meninos'). Se sou uma menina e acho que os campos da engenharia e da computação são para meninos, vou acreditar que aquilo provavelmente não é para mim. Então não vou me interessar em ir atrás disso", detalha a pesquisadora à BBC News Brasil. 

"Sinto que tem havido muita conversa sobre como tornar as garotas mais confiantes, dizer que elas são tão boas quanto os garotos, que são capazes. Mas acho que isso pula uma etapa, que é mostrar para as garotas que elas vão gostar, sentir prazer (naquela atividade)", prossegue Master, que dirige o Centro de Identidade e Motivação Acadêmica da Universidade de Houston.

O argumento dela é que o sentimento de pertencimento tem um grande papel em motivar as meninas a se aventurar nessas áreas em que são minoria.

A mensagem principal a ser passada às meninas é, na opinião de Master, que "você se sentirá confortável" nessas atividades, que "as pessoas lá são iguais a você", que "é uma situação em que você vai gostar de estar" e que "é uma atividade de que você vai desfrutar".

"Se não consertarmos esse problema subjacente, teremos meninas pensando: 'ok, sou capaz de fazer isso, mas continuo sem ter vontade de fazê-lo'. Elas sabem que se sairiam bem - basta vermos que as meninas costumam tirar notas melhores do que os meninos em ciências e matemática. A pergunta que elas se fazem é: 'pessoas como eu se sentem pertencentes a esse ambiente? Pessoas como eu vão gostar de fazer isso?'."

Click aqui e leia matéria completa no BBC News Brasil.

 

 

 

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