quarta-feira, 8 de março de 2023

O Dia da Mulher

São tempos estranhos. Temos medo de escrever um texto e elogiar uma mulher, sem chamá-la de guerreira. E de oferecer flores, porque perdemos aquela tênue delicadeza da humanidade que separa assédio, de gentileza; mercantilismo, de afeto; acordo de convivência, de carinho; beligerância, de debate. Renunciamos ao etéreo que nos move e redime, pelo terreno, que nos cerceia e imobiliza.

Não é a toa que o amor perdeu a grandiosidade e o arrebatamento e Shakespeare jamais escreveria novamente seu Soneto CXVI. Ainda somos os mesmos, ainda que não vivamos como nossos pais, e o mundo exige salários iguais- por desempenhos iguais e não por cargos iguais, espero, senão vira protecionismo-, divisão de tarefas e liberdade ao corpo, embora, saibamos, que não se encanta almas com uma pilha de pratos, e uma relação não pode sobreviver, apenas, excluindo a outra. É possível reconhecer a corajosa luta da mulher por espaço, direito e liberdade, sem eliminar o feminino, do outro lado.
Não, nada temos contra que uma batalhão só delas, nas Forças Armadas, façam o próximo desembarque da Normandia, ocupem desde as vagas da limpeza pública até a NASA, assim como tenham a liberdade de serem belas, recatadas, e do lar, car girls, ou o que forem, afinal, o corpo é delas e a liberdade feminina em seu extremo garante que cada uma faça o que quiser, e não o que querem que ela faça. E devem ser respeitadas em todas as escolhas, todas, não apenas as compatíveis com os interesses dos que ditam as regras do que é compatível.
Precisamos sim, combater a violência - essa estupidez intolerável-, seja sexual ou física, contra qualquer um, mas sem permitir que a criminalização universal transforme a solidão da distância no apocalipse dos tempos modernos.
Interessantemente, trabalho em 2 empresas. Uma tem 65 funcionários, e apenas 5 homens. Todas as demais vagas, inclusive toda diretoria, é feminina. Na outra, são apenas sete, sendo dois homens, contando comigo( não custa citar). Não as escolhi pelo gênero, mas por desempenho. Eis, o respeito.
Apesar de tantas mulheres, ou por trabalhar com tantas mulheres, sei o quanto rendem e o quanto são capazes de produzirem. E já aprendi que não são boas ou ruins por serem mulheres, mas por serem humanas.
Dito isso, afinal, é preciso certos certificados para existirmos, rendo homenagem, um tanto escabreado, e antiquado, às Helenas, pelas quais, enfeitiçados, fazemos guerras, e morremos, pela conquista do seu coração; por aquelas que nos fazem movermos mundos, inventarmos versos, navegarmos intempéries e semearmos insanidades; por outras pelas quais perdemos o rumo quando ela vem feito bailarina de alegorias dentro de seu vestidinho e faz com que nossas maiores certezas sejam porteiras de palhas.
Por aquelas pelas quais achamos que somos impérios Incas invencíveis, quando ela diz que sim, que somos o melhor, e que ela não sabe o que está acontecendo com ela de tanta vontade de permanecer na gente; e que fazem com que a vida saia de sua condição habitual de tragédia e miséria, para a glória, e todos os céus se fecundam grávidos desse encontro.
Sim, respeito, sim, absoluto, mas que as flores nunca se tornem desnecessárias, porque em um mundo em que elas sejam inúteis já não há mais nenhuma razão de ser. Nem de mulheres.


Faço minha, esta lavoura arcaica. De rosas. As que aceitam, salvem-me.

Nenhum comentário: