segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Crônica de segunda

 

No que estamos nos tornando

         Li certa vez sobre um japonês que disse que iria retirar sua conta de determinado banco porque tudo lá estava automatizado e ele não interagia mais com pessoas, que era a única razão para ele ainda ir àquele banco. “Agora é tudo muito frio, impessoal, triste”, argumentava. Recentemente, uma amiga me passou algo que alguém havia publicado nas redes sociais. Dizia o seguinte: “Passei uma hora no banco com meu pai, pois ele teve que transferir um dinheiro. Eu não pude resistir e perguntei:

- Pai, por que não ativamos seu banco pela Internet?

- Por que eu faria isso?

- Bem, então você não terá que passar uma hora aqui para coisas como transferência. Você pode até fazer suas compras online. Tudo será tão fácil.

- Se eu fizer isso, não terei que sair de casa?

- Sim. Até os alimentos podem ser entregues na porta agora com a Amazon!

- Desde que entrei neste banco hoje, encontrei quatro dos meus amigos, conversei um pouco com o pessoal que agora me conhece muito bem. Você sabe que estou sozinho, esta é a companhia de que preciso. Gosto de me arrumar e ir ao banco. Tenho bastante tempo, é o toque físico que anseio. Dois anos atrás eu adoeci. O dono da loja de quem compro frutas veio me ver e sentou-se ao lado da minha cama e chorou. Quando sua mãe caiu alguns dias atrás durante sua caminhada matinal, o dono da mercearia local, onde compramos rotineiramente, a viu e imediatamente pegou seu carro para levá-la para casa, pois ele sabe onde eu moro. Eu teria aquele toque 'humano' se tudo ficasse online? Por que eu iria querer que tudo fosse entregue a mim e me forçar a interagir apenas com meu computador? Gosto de conhecer a pessoa com quem estou lidando e não apenas o 'vendedor'. Isso cria laços de relacionamentos. A Amazon oferece tudo isso também?

Tecnologia facilita a vida, mas não oferece vida. Pessoas precisam de pessoas e não de equipamentos tecnológicos. Você consegue se ver trocando reminiscências com o seu computador ou um robô qualquer? O mundo está morrendo por causa das facilidades que fizeram as pessoas solitárias e sedentárias. O homem é um animal social, vive em grupos sociais e não sozinhos. Existem os ermitãos, mas eles são a exceção e não a regra. Essa maldita pandemia, que teve muitos aliados entre os governantes aspirantes a ditadores, enxotou todo mundo para dentro de casa, excetuando-se apenas aqueles que não podiam deixar de trabalhar para não morrer de fome, e aqueles que não queriam morrer de tédio, depressão e suicídio.

Me deixa triste saber que existe uma legião de seres humanos vivendo solitários em suas casas, interagindo com seus semelhantes apenas pelo telefone ou computador, sem sentir o prazer de um abraço, ou simples aperto de mão. Existem os inconsequentes, que se expõem em aglomerações desnecessárias sem mínimos cuidados protetivos para evitar contrair o vírus chinês infernal. Esses são inconsequentes. Verdadeiros suicidas que não dão o menor valor à vida. Mas existem aqueles que, como eu, não perdem oportunidade de estar com seus semelhantes, desde que tomadas as medidas de proteção necessárias. Basta um pouco de sensatez, coragem e sabedoria para entender que só se morre no dia certo.

Como diziam os Vikings: “Faça o que fizer, não viverá um segundo a mais do que está marcado no livro de Odin (Deus)”.

 

NE: Publicada em agosto de 2021

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