sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Bom dia minha querida cidade!


Parabéns pra você, minha Princesa! Aos 176 anos, cada dia mais jovem, moderna, dinâmica. Podes não ser o paraíso cantado e prometido, mas, com certeza, bendita e cheia de graça infinita. Lembro de ti pequenina, inocente, ainda cheirando a leite. Sim. Leite dos currais, que chegava das fazendas às portas das nossas casas, ainda morno, pagão. Diria eu, parafraseando o teu poeta, Eurico Alves Boaventura, cheirando a “tenro coco de bezerro”.
Lembro de você brincando, fazendo festas. São João, Micareta, e a grande festa para homenagear a Sant’Ana que te protege. Bando Anunciador, lavagem da igreja, levagem da lenha, retreta no coreto, parque de diversões, mortalhas, caretas e carroças enfeitadas. Paixão, chuva, suor e lágrimas de lindos foguetes. Novena, procissão e profissão de fé.
Lembro quando entravas em retiro espiritual para chorar a morte do Cristo Salvador. Luto, jejum, orações. Famílias reunidas, caruru, vatapá, e a galinha que mamãe preparava. Mas, ao final de cada ano, reunias tuas famílias para comemorar o aniversário do Cristo ressuscitado, e saudar o novo ano que chegava. Ternos, smokings, longos e belos vestidos, taças, champanhes, vinhos, música, danças, orações, agradecimentos e promessas.
Em junho, olhavas pro céu, meu amor. Lindos balões, multicores, licores, multisabores, canjica, bolo de aipim e amendoim. Portas abertas, cadeiras nas calçadas, sem medo. Todos eram bem vindos para festejar os aniversários de Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. São João passou por aqui? Passou sim, senhor. Quer um licor?
Lembro de você adolescente, contestando teus valores. Com ares de modernidade. Afoita, valente, com sede de crescer, se tornar adulta. Já namorando o progresso, mesmo contra a vontade dos teus pais, que ainda te viam pequenina. Inocente? Já não eras. Eu sabia. E tinha certeza de que te perderia para ele. É o destino de todos nós. Fazer o que? Não se pode lutar contra isso.
Crescestes minha Princesa. Definitivamente casada com o progresso, tivestes muitos filhos, adotastes outros tantos. Já beiram seiscentos mil. Amei a criança, entendi a jovem, mas não entendo a adulta. O que em ti é bom, poderia ser melhor. E tens muitos defeitos. A violência é o pior deles. E não soubestes educar bem os teus filhos. Muitos deles perderem o respeito por ti. Outros simplesmente desistiram. Outros ainda tentam preservar o que há de melhor em ti.
É uma dura batalha. O progresso não valoriza sentimentalismos. Não medita, não entende a beleza e não aceita a paz. Esquecestes as velhas amizades. Vendestes muitas das tuas jóias. Perdestes muitos dos teus filhos que mais te amavam. Tuas festas viraram orgias. Tua fé está virando profissão.
É. Já vai longe o som do aboio que embalou o teu sono infantil. Porém, com todo defeito, te carrego no meu peito.

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns "Cristovim" um texto destes só por ti feito. valeu amigo, é diso que precisamos ter ciumes de nossa terrinha sim, mais uma vez PARABENS

Lia Sérgia Marcondes disse...

Muito bonito o texto, 'vô tistóvo'. Ninguém poderia ter retratado melhor o passado e o presente de nossa cidade.

Agora... Você falou na "galinha que mamãe preparava" e eu fiquei doidinha de vontade de comer a galinha cozinha que mainha faz. Isso é maldade, porque aqui eu até acho frango caipira no mercadão, mas nem dá pra fazer um frango inteiro, porque só eu que como...

Vai ter que me arrumar um frango caipira pra mainha fazer quando eu for aí, hein? Senão seu neto vai nascer com cara de frango! :P

Beijos!