sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cronica da Semana


Apelidos

As pessoas adoram por apelidos nos seus semelhantes. Às vezes, são apelidos inocentes, carinhosos, que nascem no seio da família. A criança é batizada com um nome comum, como Carlos Augusto. Cresce, e vira “Caguto”. E pelo resto da vida ninguém o chamará de Carlos Augusto. Até ele mesmo vai estranhar se o chamarem pelo nome verdadeiro.
O dono do Boteco do Vital, que aliás não o Vital, e sim o Manoel, tem o apelido de “Capuchinho”. Apelido que ganhou no bar, por conta da barba que usa, como um frade Capuchinho. Em família, ele é o “Dedé”. Certo dia, um fornecedor entrou no bar e perguntou pelo “Senhor Manoel”. O filho dele que estava no balcão, estranhou, e respondeu: “Aqui não tem nenhum Manoel não”. Quando o rapaz já ia saindo, foi que ele se lembrou: “Ei! Volta aí. É o meu pai”.
Apelidos também são colocados de forma pejorativa, de forma a aborrecer quem o recebe. E quem se aborrece e briga quando é chamado pelo tal apelido, fica marcado por ele pelo resto da vida. O melhor é relaxar e entrar na brincadeira, porque o que as pessoas querem é justamente sentir a reação do apelidado. Não por acaso, o humorista Mução (que já tem esse apelido esquisito), faz o maior sucesso com o seu programa de rádio cujo quadro de maior audiência é justamente aquele em que ele liga para alguém que não gosta do apelido que tem, e o chama pela detestada alcunha.
Os apelidos também são colocados de acordo com a aparência do sujeito e, maldade, até por conta de algum defeito físico. E aí aparecem “Cara de Rato”, “Deixa Que eu Chuto”, “Formigão”, “Mão de Gengibre”, “Coleiro”, “Onça”, “Garrafa Andando”, entre outros. Em pequenas cidades os apelidos aparecem também como referência, para distinguir uns dos outros. Nomes comuns como José (que, automaticamente, vira Zé), Antônio (Tôim) e João (Jão), recebem em seguida o nome do pai ou da mãe. E aí temos Zé de Orlando, Tonho de Honorina (Dionorina), e Jão de Aníbal.
É curioso como, em família, os apelidos são estapafúrdios, não fazem sentido algum. Eles simplesmente brotam da cabeça de algum parente ou amigo, e permanecem por toda a vida. O indivíduo se chama Igor, mas a avó só o chama de “Tum”, ou “Tum-tum). Assis é “Dum”, Dennis é “Pêi”, Maria é “Lia” ou “Lilia”, Nildete é “Tute”, Marina é “Bei”, Geraldo é “Dudu”, Graciana é “Pituzinha”, Lia é “Pititinga”, Leno é “Biscuri”, e Allan é “Galo”. E vai por aí afora.
O humorista Chico Anízio já fez uma piada sobre os apelidos dos jogadores de futebol do Brasil. Dizia ele: “É um lixo! É Piau, Pipi, Pili, Pelé, Picolé, Cafuringa, Onça, Fio. Fio de quem”? – questionava ele. Na roça, os apelidos tendem a ser comparativos com animais ou entidades do folclore. E aí temos Cuiuba, Jacaré, Saci, Teiú, Lobisomem, Galo Terra, Fuinha, Zumbi, Cavalo, Jumento, e por ai vai.
Uma amiga minha, passando uma temporada na fazenda do sogro, resolveu fazer um passeio a cavalo pelas cercanias. A cada casa que encontrava, ela fazia uma parada e conversava com os moradores, todos eles trabalhadores rurais, gente simples. Ela estranhou não só os apelidos que quase todos tinham, mas, também, os nomes próprios, que são, em geral, incomuns. Um era Abedenagno, outra era Astrogilda, Orinóculo, Eustógio, Escolástica, Tenesmunde, e por aí afora.
Ela, já bastante impressionada com aqueles nomes totalmente incomuns, e, ao seu ver, muito feios, acabou parando numa casa para beber água, quando viu um garotinho brincando no terreiro. Ela perguntou à mãe da criança qual era o nome do garoto, já esperando uma bomba daquelas que ela ouvira o dia inteiro. Quando a mãe do garoto disse que o nome dele era Antônio Carlos, ela desabafou: “Ora, até que enfim, um nome bonito. Parabéns, moça, o seu filho tem realmente um nome bonito”.
Foi quando uma tia do menino, que raspava mandioca, sentada à soleira da porta, soltou a bomba:
- O nome dele é Antôim Carlo, mais nois só trata ele de "Priquitim".

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