sexta-feira, 5 de março de 2010

Artigo da Semana


Políticos e jornalistas

Quando iniciei no jornalismo lá pelo final de década de 70 “pauteiro” era um cara com faro para notícias, que preparava as pautas (dicas sobre algum fato em andamento) para orientar os repórteres na busca da notícia. Era uma mão na roda para nós, repórteres, pois já recebíamos tudo mastigadinho, e aí era só questionar o entrevistado e ficar atento para ver se saía mais alguma coisa importante, além do que a gente já sabia.
Porém os políticos, bichos muito espertos, descobriram uma forma de pautar os repórteres para usá-los no seu jogo, plantando notas e matérias de seu interesse. Alguns jornalistas percebiam o jogo e não caíam nas artimanhas dos políticos, filtrando as informações, avaliando se o conteúdo era interessante ou não para a comunidade, evitando assim fazer o jogo de interesses. Outros, porém, aceitavam e faziam o jogo deliberadamente, em troca de favores ou dinheiro, e se diziam “assessores”.
Nada contra a assessoria política, é um trabalho honrado como qualquer outro, mas, não é preciso vender a alma ao diabo. Eu, por exemplo, já recusei muita proposta para trabalhar em assessorias. Algumas aceitei, outras não. Porque é preciso que entre mim e o meu assessorado haja um mínimo de afinidade. Já perdi emprego por não concordar com atitudes do meu empregador. E outros tantos perderei, se necessário for.
Mas os políticos foram mais além. Eles passaram a não esperar mais pelo interesse dos jornalistas por eles, e passaram a ir eles mesmos às redações, a título de cordiais visitas, na intenção de receber e passar informações. Invadiam as redações e vinham com aquela conversa mole na base do: “Então, o que há de novo”? Se o repórter não ficasse atento, de repente estava sendo pautado por um político. Estava sendo envolvido na teia.
Quando eu editava a página de política do jornal Feira Hoje, lá pelos meados da década de 80, eis que numa tarde, já tendo fechado minha página, percebo um deputado vindo pelo corredor em direção à redação. Com certeza vinha me fazer o grande favor de me dar uma entrevista bombástica, sobre algum grande feito seu. Ele entrou por uma porta e eu saí pela outra. Entreguei meu material ao revisor e me piquei para o bar mais próximo. Afinal, era uma tarde de sexta-feira e eu já tinha terminado meu trabalho. Creio que foi a partir daquele dia que ele começou a me esculhambar por aí.
Hoje em dia eu vejo que ele fez escola, melhorou sua artimanha, e tem alguns seguidores aqui na Cidade Princesa. Todo dia eu recebo centenas de e-mails de assessorias políticas. A maioria das informações que me mandam, vão direto para o lixo. Os caras, na maior cara de pau (desculpem a redundância), sem ter serviço pra mostrar, pongam nos feitos dos outros.
Por exemplo: Um índio lá no Xingu, dá peido. Eles, então, mandam, via assessoria, uma nota dizendo: “O deputado fulano de tal marcou presença no momento histórico em que o cacique tupinambá bufou. Na oportunidade, ele elogiou o qualidade de bufa do cacique e se comprometeu a dar o seu apoio aos futuros investimentos da tribo nesta área”. E por aí vai. Ora, me batam um abacate. Eu tenho mais o que fazer.
Vão trabalhar!

Nenhum comentário: