sexta-feira, 5 de março de 2010

Crônica da Semana

O pacto

Valdomiro Pinto (não confundir com Valdomiro Silva, que é o maior mão aberta da cidade) é o sujeito mais mão fechada que conheço. Dizem as más línguas que ele não abre a mão nem pra jogar peteca. Certo dia, estando em casa, soltou uma sonora e fedorenta bufa. Dona Maria, a esposa, ralhou com ele: “Pô, Valdomiro, lá na loja tu dá dessas bufas”? Ele retrucou: “Lá eu não dou nada, lá eu vendo”.
Dizem que quando ele ainda namorava dona Maria, foi até a casa dela lhe levar um cacho de licuri que ele tinha trazido da roça. Ela não estava em casa, mas a irmã, que o atendeu, pediu:
- Me dá uma penca, Valdomiro.
- Não que desinteira o cacho.
- Então me dá um.
- Não que desinteira a penca.
Ainda outro dia, numa aula de estatística, na Uefs, o professor Elias lhe perguntou: “Se eu e você vamos assistir ao show de Roberto Carlos, no Iguatemi, e eu comprei o ingresso antecipado, com desconto, por R$ 50 reais, mas você deixou para comprar no dia, por R$ 80 Reais, qual a porcentagem que você gastou a mais que eu”?
Ele respondeu: “Não gastei nada, porque sou amigo de Daniela Baruch e ela me deu os ingressos”.
Afora isso, Valdomiro é um grande sujeito. Bom amigo, bom de papo, bom de gole, de farra e forró. Há alguns anos ele e mais três amigos costumavam se reunir nos finais de tarde no Boteco do Vital para beber cerveja e jogar conversa fora.
Foi por essa época que eles fizeram um pacto. Quando um dos quatro morresse, cada um dos três remanescentes deveria colocar R$ 1 mil no caixão do morto.
Falecido um dos três amigos, consternados, dois do três remanescentes, logo se prestaram a cumprir o pacto e colocaram cada um R$ 1 mil dentro do caixão. Já estava quase na hora do enterro e nada de Valdomiro dar o ar da sua graça. Os outros dois já estavam para desistir, quando ele chegou, cumprimentou a todos com a clássica balançada da cabeça, e foi conferir o caixão.
Vendo que os outros dois amigos já haviam colocado, conforme o combinado, cada um R$ 1 mil, em espécie, não pensou duas vezes. Sacou o talão e preencheu um cheque de R$ 3 mil, cruzado e nominal o defunto, colocou no caixão e embolsou o dinheiro que estava no caixão.

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