domingo, 7 de abril de 2024

 


* Afro-herança
*

 Da afro-herança, quem não guarda a lembrança,

Não é desta terra nem nunca será!

 

Eu sou a oferenda a Exu, abrindo caminhos.

Eu sou o calor do fogo, o beijo da chuva, o abraço da água.

Eu sou quem às sextas, vestido de branco, visita Oxalá.

Tu não me entendes e, mais que o queiras, nunca entenderás.

Minha crença é cega, por que me persegues?

Se não conheces o terreiro Okutá de Ogún,
Se não vestistes as vestes dos Filhos de Gandhi

E não ouvistes, certezas tristes: o sirrum.

 

Que não comemora Iansã,

Quem não festeja Yemanjá,

Quem desconhece a dagã,

Não é desta terra nem nunca será!

 

Eu sou o alabê, baiano-afro, sul-americano,

Que dirige o adarrum, o alujá, o batucajé

E agrado Òbaluayaê, tocando o opanijé. 

Eu sou a dor dos degredados da sorte,

sem rumo, sem norte.

Eu sou a parte restante de um triste viajante.

 

Tu me persegues, mas não me irás destroçar.
Eu tenho escolha, vou confessar:

No paxorô de Oxalá irei me apoiar.

 

Quem não ouviu alujá em homenagem a Xangô
Não é desta terra nem nunca será!

 

Eu sei quem manipula o sagrado

da pedra de Xangô,

das plantas de Oxóssi,

do filho de Ogún.

 

Eu sou quem guarda o segredo,

protege o legado,

propaga o axé.

Eu sou a árvore da estrada, não me conheces.

Eu sou a pedra encantada, ao rogar uma prece.

Eu sou o som do gã, do agogô, do rumpi,

Em conjunto com o tata e seu caxixi.

 

 

Quem nunca, sequer, foi a um terreiro,

Quem não visitou o Ilê Ohum Lailai

- Museu das coisas antigas, no ‘Gantoá’ -

Não é desta terra nem nunca será!

  




  

Glossário

·        Okutá: Pedra.

·         Sirrum: Candomblé funerário.

·        Dagã: A mais velha das duas filhas de santo encarregadas do despacho de Exu.

·        Alabê: O chefe da ‘orquestra’ dos candomblés.

·        Adarrum: Três distintos toques de atabaque para provocar a chegada dos orixás.

·        Alujá: Toque especial para Xangô.

·         Batucajé: O ruído produzido pelos atabaques em geral.

·        Opanijé: Música especial para Ômòlu – Òbaluayaê.

·         Paxôrô: O cajado de Oxalá.

·         Axé: Os alicerces mágicos da casa do candomblé, a sua razão de existir.

·        : O agogô com somente uma campânula.

·         Agogô: Composto de duas campânulas de ferro em tamanhos desiguais e uma vareta do mesmo metal.

·         Rumpi: O atabaque intermediário.

·        Tata: Babalorixá, pai de santo.

·        Caxixi: Saquinho de palha contendo sementes de bananeira do mato, para acompanhar certos cânticos.

·        Ilê: Casa.

·        ‘Gantoá’: (originalmente: Gantois) local onde se situa terreiro em Salvador, especificamente no bairro da Federação, tombado em 2002 pelo IPHAN.                        

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