segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A epidemia de cursos de Medicina e os riscos da má formação.


A prova do CREMESP reprovou 56% dos médicos recém formados, mesma média dos 10 anos em que tem sido feita. Aliás, isto não é tão novo. O projeto CINAEM - melhor projeto de avaliação de escola médica que já vi-, de 1991, já sinalizava a inadequação da formação. Com a chegada do PT ao poder e a estratégia de quebrar a espinha dorsal da classe médica deu-se a abertura indiscriminada de cursos (126 de 2005-2016, sendo 72 privados e 54 públicos) quando apenas uma parte se justificaria, nos levando ao absurdo número atual de 272 cursos, com 25.000 mil vagas, atrás, apenas, da Índia, com seu 1,4 bilhão de habitantes. Evidente que o MEC não seguiu normas adequadas para autorização, pois, só muita irresponsabilidade pode justificar Vitória da Conquista, por exemplo, ter 3 cursos.

Fácil entender a proliferação, pois, como disse o próprio ex-ministro Mercadante, ao assumir, o MEC: estamos fechando o balcão de negócios. Dizem, que há políticos que receberam bastante dinheiro para conseguir autorização, mostrando que nossa miséria moral é ilimitada.
A realidade é que não temos professores capacitados para atender esta explosão de vagas - não basta ser médico, para ensinar-; não temos uma rede pública com tamanho e resolutividade adequada para ensinar com qualidade, tamanha demanda; não temos uma política de estado, efetiva, para inserção do aluno na rede, que acaba recebido como um alienígena, nas migalhas de espaço concedido; nem uma política séria, continuada, de avaliação de funcionamento.
O governo optou, agora, por uma prova, que, talvez, se torne obrigatória e pré-requisito para exercer atividade. Mantendo-se a média de São Paulo estaremos diante de outro absurdo que é o elevadíssimo custo de formar um médico, para, em seguida, deixá-lo fora do mercado, quando deveria fazer-se as intervenções, precocemente.
Para aumentar vagas (que até acho correto, em parte) o governo deveria ter aberto algumas faculdades e ampliado e qualificado as unidades existentes- por exemplo, a UEFS- concluindo o ambulatório, fornecendo professor, equipando laboratórios, dividindo o gigantesco Departamento de Saúde, para melhor administração, e criando o Hospital Universitário, outra, de nossas insanas lutas.
No exame do CREMESP a reprovação entre as escolas públicas foi menor que nas privadas, mas subiu de 26,4% para 37,8%. Entre as privadas, subiu de 58,8% para 66,3%. Preocupante retrato, este.
Exercia o cargo de Coordenador do Colegiado de Medicina quando o curso de Feira foi reconhecido; fui parecerista para o MEC do Curso de Conquista; e, ao final do ano passado, do curso de Jequié. Além disso, Coordeno a Residência de Clínica Médica, do HGCA- estivemos na sua criação há mais de 25 anos- , e que, agora, está sendo esvaziada pelo governo. Na próxima semana estarei ministrando o XVIII Curso para Desenvolvimento de Professores em Currículos Inovadores, na UEFS, com o objetivo de ampliar o domínio pedagógico dos docentes. Conheço, portanto, a realidade de ensino em cada uma destas instâncias, as limitações e possibilidades.
A realidade mostrada pelo CREMESP é assustadora, mas é,na média, verdadeira e retrata a necessidade de colocar um freio na autorização para novas escolas e a criação de uma séria politica de funcionamento para as existentes, pois o produto que entregamos a sociedade precisa ser, como sempre digo aos meus alunos: maximamente eficiente e minimamente invasivo a integridade física, econômica e afetiva do paciente.


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