sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Estórias de cabaré


Na minha adolescência esse negócio de sexo era tratado como um tabu. Todo mundo sabia que existia, mas ninguém tocava no assunto. E assim foi que eu tive que aprender quase tudo na rua, da maneira errada, é claro. E justamente por não saber de nada, peguei uma doença logo na minha primeira transa. Só a partir daí, aprendi a ter os necessários cuidados.
Também não tinha, naquele tempo, motéis. Os amores proibidos se davam em locais chamados “castelos”, que eram casas mantidas por cafetinas para promover encontros furtivos. Mas isso era pra quem podia pagar caro. A maioria da rapaziada, como eu, tinha mesmo era que ir pro brega.
Mas eu estou falando de um tempo, em que até os bregas tinham seus luxos e códigos de honra. Aqui em feira tinha brega que tinha até orquestra e promovia festas com apresentações de cantores populares, tipo Waldick Soriano e outros menos votados. Geralmente um brega tinha a dona da casa, que tratava diretamente com os clientes as questões financeiras, e o seu cacho, que garantia o respeito no ambiente.
De resto, eram: o bar, onde a dona da casa e seu cacho despachavam as bebidas e as chaves dos quartos; o palco, onde a orquestra se apresentava; um salão de dança rodeado de mesas; um corredor comprido onde ficavam os quartos. Os tais quartos eram de parede meia, sem forro, de forma que se um casal era barulhento, o brega todo tomava conhecimento do que se passava. Brigas eram raras, mas quando havia, geralmente terminava em morte. A facadas, que armas de fogo eram raras.
Todo brega tinha sua bicha de estimação. Sempre tinha um veadinho pra fazer os mandados da dona da casa ou favores para alguns clientes. Tipo assim, comprar cigarros, dar recados, etc. Tinha também os veados mais importantes, que iam lá para arranjar namorados, beber e dançar. Alguns até se apresentavam cantando, fazendo dublagens ou imitações, acompanhados pela orquestra.
Algumas pessoas transitavam bem nestes lugares, outras nem tanto. Um amigo meu, por exemplo, teve uma noitada mal sucedida. Não era mesmo a noite dele. Ele chegou ao Feira Tênis Clube onde acontecia uma boate nas noites de sábado. Logo na entrada (só Deus sabe como) ele conseguiu prender o dedão da mão na engrenagem do torniquete.
Mais tarde, já no salão de dança, ele se meteu numa confusão onde tomaram sua namorada, lhe bateram e ele ainda perdeu um pé de sapato. Saiu da boate sob uma chuva fina e fria do mês de junho e ficou do lado de fora matando a fome com cachorro quente. Pra curar a dor de cotovelo, resolveu ir a um brega. Segundo um nosso amigo comum, ele passou a noite toda consertando o relógio de cabeceira da prostituta e dando conselhos a ela para que abandonasse aquela vida.
Já outro amigo meu transitava com desenvoltura pelos cabarés da cidade. Não por acaso, era apelidado de “Rei das Putas”. Ao contrário de nosotros, pobres mortais, as meninas lhe davam presentes e transavam com ele de graça. Uma vez ele ganhou de presente de uma delas um perfume francês legítimo. Eu acho que ela deve ter economizado o ano todo pra lhe dar aquele presente do Dia dos Namorados.
Eu abandonei minhas idas aos bregas aos dezoito anos. Não me conformava em ter que pagar a alguém para dividir o prazer comigo. Mas trago algumas recordações hilárias do período em que andava naqueles ambientes.
Havia na rua da Aurora, um brega conhecido por Tamarindo, que tinha um grande tamarindeiro na frente. Um dia de sábado, ainda cedo, os clientes ainda não haviam chegado, as meninas estavam se arrumando, botando disco na vitrola e a dona da casa ainda fazendo os últimos preparativos, o veado conhecido por Katina, estava de pé no início do corredor. Num dos quartos estava seu colega, conhecido por Verinha. Em determinado momento, Katina ouviu os sons conhecidos e gritou para dentro do corredor: Verinha. Abílio não já disse que não quer você tocando corneta?
De lá, o outro (ou a outra, sei lá), respondeu meio escabriada:
- Eu não estou tocando não, Katina.
- Daqui estou ouvindo os sons dos clarins...

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