sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Crônica da semana


Trabalhar? Não paga a pena.

Lembrei deste bordão do Jeca Tatu, antigo personagem de Monteiro Lobato, avesso ao trabalho, ao tomar conhecimento, através do Diário Oficial da União, da lei que estabelece o “Auxílio Reclusão”. Isso que dizer que se alguém for preso, por ter cometido algum crime, sua família, caso a tenha, terá direito a receber do governo federal, mensalmente, uma quantia próxima aos R$ 800,00. A justificativa é de que, com o chefe da família preso, mulher e filhos passarão por necessidades. Alguém logo se apressou a perguntar: Mas, e as vítimas do criminoso, também receberão alguma ajuda do governo?
Não sei, minha senhora. Mas, creio que não. Porque, nesse “Patropi, abençoá por Dê”, tudo gira ao contrário, anda de ré. Segundo um amigo meu, aqui tem até galinha que cisca pra frente. Eu mesmo nunca vi nenhuma, mas ele jura que é verdade. Mas, deixa pra lá. Até porque aqui, ainda, existe liberdade, e a galinha pode ciscar pro lado que quiser que ninguém tem nada com isso. E quem ganha a vida ciscando é mesmo galinha e jogador de futebol firuleiro.
Mas, o nosso governo, que tem como presidente um grande estadista, pai dos pobres (eu já vi esse filme. E não é bom), quer ver o seu povo feliz, e, por isso mesmo, vive a distribuir esmolas, piadas e outros carinhos. Homem de fé, temente a Deus, perdoa todos os seus inimigos que, de alguma forma, lhe ofenderam no passado. Por acaso ele não perdoou Sarney e Collor, e não ficou contra a prisão de Arruda? Pois é! O homem é um santo.
E o nosso magnânimo presidente criou a “Bolsa Família”. Isso carece de explicação: antigamente, os famigerados coronéis, exploradores do povo pobre, andavam com um saco de dinheiro numa mão e um chicote na outra. Quem obedecia as suas ordens, recebia benefícios (dinheiro e sua proteção). Quem não obedecia, levava chicotadas. E no dia de eleger os governantes, quem não votasse nos candidatos dos coronéis, era castigado.
Mas, o tempo da barbárie passou. Hoje, o nosso coronel, digo, presidente, institucionalizou a esmola. Todo mundo tem direito. É só querer. Se você ficar quietinho no seu canto, sem reclamar de nada, pode pegar todo mês sua esmola, digo, seu benefício. Se quiser, que ninguém é de ferro, pode até fazer uns bicos para complementar a renda familiar. Se tiver filhas, basta que elas engravidem para receber a bagatela de R$ 1.200,00. É mole, ou quer mais?
É por essas e outras que dona Suzancleide, moradora do populoso bairro do Ovo da Ema, conversava indignada com sua comadre e vizinha, dona Edicreuza (também bolsista como ela), sobre os desmandos do seu marido:
- Pois é, minha filha. Pra você ver. Eu dou um duro danado, fico aqui cuidando de filhos e netos, lavo, passo, cozinho, e ainda tenho que ir todo mês ao banco pra sacar o benefício, porque nem isso ele faz...
Nisso, vai chegando o marido, cansado do trabalho. E dona Suzancleide, com ar de desdém, diz:
- Pois é, minha filha. E o bonitão aí fazendo o que? Trabalhando, em vez ir pra cadeia...

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