terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fazer o bem olhando a quem


Tudo no Brasil vira competição. O povo brasileiro tem uma tendência natural a se envolver nas mais diversas situações agindo como se a vida das pessoas dependesse de mostrar-se superior aos outros, individual ou coletivamente. Parece-me que é este o sentimento que move a população a se engajar nas campanhas públicas de solidariedade, sem maiores ponderações sobre a validade delas.
Tragédias ocorridas nos mais distantes rincões do mundo recebem a ajuda solidária de brasileiros. No entanto, as tragédias cotidianas, ocorridas ali, pertinho da nossa casa, são solenemente ignoradas pelos vizinhos. Porque não dá ibope, não aparece na mídia. Sempre que reflito sobre isto me lembro de uma época em que virou moda socialite adotar crianças africanas. No rio de janeiro, dondocas ricas importavam bebês africanos e ignoravam os pobres favelados que moravam nos morros vizinhos às suas mansões. Pois é. Se eu posso ter um produto importado, porque vou querer nacional?
Não estou negando o valor da solidariedade, mas apenas alertando para o fato de que, até para ajudar alguém, é preciso moderação. Antes de qualquer coisa é preciso saber sobre quem precisa e pede ajuda, e que tipo de ajuda dar. Vejamos por exemplo o que acontece agora no Rio de Janeiro, após as enchentes que deixaram centenas de mortes e desabrigados.
Armazenadas precariamente em quilos de sacos fechados as doações não param de se multiplicar. Mas, como assumem os próprios responsáveis pela logística de distribuição, faltam voluntários para dar o encaminhamento adequado à ajuda. A maioria não foi sequer tocada. “Roupa não precisa mais. Já deu. Inevitavelmente, vamos acabar tendo que fazer doações mesmo para quem não foi atingido pela água”, alerta o diretor do centro de triagem.
Em Petrópolis, a voluntária que cuida das doações diz que também há incertezas sobre a necessidade de mais alimentos. Já teve comida que estragou. Segundo ela, os problemas vão além: entre quem trabalha de forma séria, há gente que faz mau uso das doações. Caminhão chega à cidade procurando onde entregar coisas e tem político colocando gente e placa para receber. Depois, leva para bairro em que ele vai ganhar voto. Daí ele envia para a comunidade e manda dar o recado: foi fulano quem deu.
É sempre bom lembrar que aqui mesmo, em Feira de Santana, há instituições sérias precisando de ajuda, como Lar do Irmão Velho ou a Associação de Proteção a Pessoas com Câncer, alem de inúmeras creches e orfanatos. Também é bom lembrar que, recentemente, um depósito, cheio de doações feitas há mais de um ano, em Alagoas, pegou fogo. Tudo foi perdido porque alguém, talvez, estivesse esperando para fazer uso político do que foi doado para vítimas de enchentes naquele estado.
É por essas e outras que, hoje em dia, devemos fazer o bem olhando a quem.

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