Esse foi um ano e tanto para as criptomoedas. O bitcoin começou 2017
valendo menos de US$ 1 mil (aproximadamente R$ 3,3 mil) e, em dezembro, quase
ultrapassou US$ 20 mil em meio a dois meses de grande flutuação.
Durante toda a curva de ascensão do preço da moeda, céticos previram que
a bolha iria estourar – e, há duas semanas, parecia que isso estava de fato
ocorrendo.
O preço da moeda caiu até quase US$ 13 mil - e passou a flutuar neste
patamar. Na sexta, abriu o dia em US$ 14,4 mil e fechou em US$ 13,3 mil. As
mudanças têm acontecido com tanta velocidade que qualquer artigo ou matéria
sobre a flutuação ficam velhos cinco minutos depois de serem escritos.
O que é preocupante é que estamos no estágio comum em bolhas econômicas
em que as pessoas entram na onda de forma impulsiva, sem pensar muito, com
pouco conhecimento sobre como o bitcoin funciona e sobre os riscos envolvidos.
Na semana passada, visitei um caixa eletrônico de bitcoin em um café
dentro de uma estação de metrô em Londres. Já tinha passado por lá antes,
quando parecia ser muito pouco utilizado, mas, dessa vez um fluxo constante de
pessoas – em sua maioria homens jovens – chegava para botar notas de 20 libras
na máquina e comprar uma pequena fração de bitcoin.
A maioria deles não queria conversa, mas um me contou que investiu cerca
de 10 mil libras em criptomoedas. Quando perguntei o que ele faria se a bolha
de fato estourasse, respondeu: "Vou manter as moedas. Tenho certeza que o
preço vai subir de novo. Mesmo se cair muito, vou segurar [as moedas]."
Lento
despertar
Na rede social Reddit, na semana passada, várias pessoas de repente
estavam se dando conta de que mercados também podem cair.
"Discuti com minha esposa durante meses para comprar",
escreveu um homem, logo depois de uma queda brusca no preço. "Finalmente
consegui comprar um, quando estava a US$ 19,4 mil...", revelou, soltando
um palavrão em seguida.
Essas flutuações violentas no valor do bitcoin estão deixando cada vez
mais evidente que não se trata realmente de uma moeda – existem pouquíssimos
lugares que o aceitam e ninguém quer gastar uma moeda que pode valer muito mais
no dia seguinte.
Na reunião editorial da BBC, discutimos se deveríamos continuar a usar o
termo criptomoeda já que o bitcoin claramente não funciona como meio de troca.
Mas, no final, decidimos que os termos commodity e ativo financeiro também não
são muito representativos.
Agora, a sensação é de que o mercado não vai aguentar a pressão com o
alvoroço se espalhando do bitcoin para outras "moedas" virtuais e
para a tecnologia que as torna possível - a chamada blockchain. Essa semana, a
empresa de bebidas Long Island Iced Tea viu suas ações subirem mais de 400%
depois de mudar seu nome para Long Blockchain – prova de que esse frenesi das
criptomoedas está atingindo uma velocidade terminal.
Essa é a visão, por exemplo, de David Gerard, que escreveu o livro
Attack of the 50 Foot Blockchain (O Ataque do Blockchain de 50 pés,
em tradução livre) e desconstruiu o fenômeno todo de forma muito convincente.
Sua preocupação é com as pessoas que entraram na onda no último momento.
"É assim que as bolhas econômicas funcionam. Pessoas compram porque
outros estão comprando e assumem que podem vender e ficar ricos. Quando a bolha
estourar – e é 'quando', não 'se'" – será um desastre para muitas
pessoas."
Uma preocupação é com o momento em que, ao tentar liquidar seus ativos,
a saída esteja bloqueada.
Eu tenho vendido bitcoins que comprei há 18 meses, quando paguei 60
libras (cerca de R$ 266) por uma fração de 0,17 de unidade.
Em tese, a operação deveria ser simples e eu de fato vendi parte do que
tinha por 500 libras (cerca de R$ 2.220) por uma pequena taxa de câmbio. Mas
conseguir que o dinheiro em libras de fato caísse na minha conta de banco se
mostrou mais complexo do que pensava. Ainda estou para receber meu dinheiro.
Isso é bem diferente das "finanças sem dificuldade" prometidas
pelos defensores do bitcoin. E se a corrida para vender continuar, existe uma
boa chance do sistema entrar em colapso. (BBCBrasil)
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