quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Deixem meu verão em paz

Daqui a exatamente um mês começa o verão, ao menos oficialmente, já que por aqui na Bahia o inverno são duas chuvas, a primavera dez flores, e o outono duas folhas esparramadas no chão após caírem de maduras. Eu não sei vocês, mas acho que esse ano foi carrasco, mais desgastante que fila de cartório para tirar segunda via de documento, cheio de aleivosia de soberbos e arrogantes sobre nós que somos gente comum querendo comida, diversão e arte.

Ou pelo menos sem fiscal de braguilha, juízes da vida alheia, vendedores de receita de sucesso em dez lições e vinte depósitos em parcelas iguais, e a maldade dessa gente boa que vive de cancelar a vida alheia. Não, não, eu não suporto mais o rancor dos ressentidos, a manipulação dos vitimistas, os exploradores do progressismo de interesses. A aventura humana na terra anda precisando do saneamento dos costumes, polimento dos valores, desenferrujamento da empatia, antes que fique soterrada como a verdade nas redes, o jejum intermitente, a veracidade das pesquisas eleitorais.

Tô até aqui de mágoa, de saco cheio e já vazando dessa miséria política, institucional, da relativização do enriquecimento ilícito, repressão a masculinidade, como se fosse culpa, nascer macho, encher a cara, e cuspir no gramado. Quem não gostar que vá contar caroço de areia na praia que faz melhor. Aliás, na praia não que o verão tá na porta, em cima, e a gente não quer esse povo de alma tóxica, mente estreita, militância patológica, estragando o céu, sol, sal, e o mulherio desaforado de bonito exibindo suor e vida, promessa e desejo no verão que já nos alcança.

Como não somos sectários e para provar nossa fé democrática, até deixamos que os mal humorados, os cativos ideológicos, tomem um pouco de sol no tutano para ver se amadurecem e mudam o rumo da prosa. E que se não for possível façam que nem o guaiamum, mergulhando na areia e ficando por lá até serem escavados na geração seguinte como um fóssil primitivo.

A única coisa que não queremos é gente atrapalhando nosso verão, botando gosto ruim na nossa felicidade, desbotando o colorido de nossa alegria já tão escassa, desenfeitando os olhos enamorados dos enamorados do verão. Por isso, é urgente que a gente não se curve, nem compactue, não aceite, nem se deixe dominar, não se cale, nem se deixe explorar, por ninguém, para que a temporada venha livre e plena.

A estação tá em cima e precisamos estar livres e prontos para o que der vier no maior verão de todos os tempos: aquele que vamos viver. E, talvez, sonhar!

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