sexta-feira, 25 de novembro de 2022

A curiosa 'Agência de Premonições' encarregada de estudar pressentimentos das pessoas


No dia 22 de outubro de 1966, John Barker, psiquiatra formado em Cambridge com 42 anos de idade, chegou a Aberfan, no País de Gales.

O pequeno povoado galês havia ficado famoso da noite para o dia por um motivo desolador.

Um dia antes, o desabamento dos rejeitos de uma mina de carvão causou uma avalanche que sepultou vivas dezenas de pessoas. Foram 144 mortos; destes, 116 eram crianças, a maioria com 7 a 10 anos de idade.

Barker estava pesquisando para um livro sobre a possibilidade de morrer de susto e havia ouvido uma notícia sobre uma criança que havia escapado ilesa do deslizamento, mas acabou morrendo de medo.

Mas, como membro da Sociedade Britânica de Pesquisas Psíquicas, fundada em 1882 para investigar questões paranormais, o que mais o intrigou foram "diversos incidentes estranhos e comoventes". As famílias afetadas falavam de sonhos e presságios.

A mãe de Paul Davies - um menino de oito anos de idade que morreu na escola que foi soterrada pela avalanche - encontrou um desenho que seu filho havia feito na noite anterior, com muitas pessoas cavando em uma ladeira e o título "Fim".

Eryl Mai Jones - outra das vítimas, que o sacerdote local descreveu como "uma menina de 10 anos sem propensão à imaginação" - havia dito à sua mãe duas semanas antes do colapso que não tinha medo de morrer.

E, no dia anterior à sua morte, ela insistiu em contar à sua mãe: "Sonhei que eu estava indo para a escola e ela não estava ali. Algo preto havia caído por toda parte!"

Duas fileiras de arcos brancos no cemitério de Aberfan marcam os túmulos das crianças mortas no desastre ocorrido no País de Gales, em 1966

Casos como estes levaram à criação, em 1967, da Agência de Premonições, um escritório que se propôs a coletar visões de desastres iminentes em um dos episódios mais estranhos da história da psicologia britânica.

Pressentimentos

Barker entrou em contato com Peter Fairley, correspondente científico do jornal Evening Standard, de Londres, que havia se destacado em 1961 ao prever, com base em pouco mais que uma advertência aos navios no Oceano Pacífico e na sensação de que algo estava acontecendo, que a União Soviética estava a ponto de lançar seu primeiro voo espacial tripulado.

Sua história foi publicada na primeira página do jornal e Yuri Gagarin voou ao espaço dois dias depois.

Entusiasmado, Fairley convocou os leitores da sua coluna "O Mundo da Ciência", em 4 de janeiro de 1967, a enviar "premonições genuínas" para compartilhá-las com um "psiquiatra britânico de prestígio".

E, naquele mesmo dia, o piloto britânico Donald Campbell, que já havia batido diversos recordes mundiais de velocidade na terra e na água, tentava estabelecer mais uma marca.

Na noite anterior, Campbell havia ficado acordado até tarde jogando paciência. E, quando saiu o ás de espadas, seguido pela rainha, ele comentou a um amigo que a rainha Maria 1ª da Escócia havia tirado as mesmas cartas antes da sua decapitação, em 1587.

"Tenho a mais horrível premonição. Desta vez, é comigo", disse Campbell a Fairley, acrescentando: "Tenho essa sensação há dias". E disse algo similar aos repórteres antes de subir na sua embarcação.

Momentos depois, a lancha Bluebird, de Campbell, deu um salto mortal na superfície do lago Coniston Water, na Inglaterra, e afundou. O corpo de Campbell só foi recuperado em 2001.

Armazenando visões

A morte de Campbell foi uma coincidência para a agência recém-criada. Mas outros eventos fariam crescer sua importância, mesmo que, ao longo de 18 meses, menos de 3% dos 732 casos recebidos pela agência aparentemente se tornaram realidade.

Barker previu que poderia "haver inúmeros alarmes falsos, particularmente nos primeiros tempos". Mas ele estava certo de que a premonição deveria ser aproveitada, como escreveu na publicação Medical News pouco depois de iniciar o experimento.

Ele acreditava que a Agência de Premonições poderia chegar a ser um depósito dos sonhos e visões do país e tornar-se um sistema de alerta precoce.

"Idealmente, o sistema precisaria estar conectado a um computador", escreveu ele. "Com a prática, deveria ser possível detectar padrões ou aumentos que poderiam até indicar a natureza e a possível data, hora e local de um desastre."

O plano de Barker e Fairley era apresentar possíveis resultados promissores ao Parlamento e ao Conselho Britânico de Pesquisas Médicas.

O Jonas de Michelangelo, na Capela Sistina, em Roma


Mas eles sabiam que enfrentavam uma versão moderna do dilema de Jonas.

Segundo o Antigo Testamento, Deus pediu a Jonas que profetizasse a destruição da cidade de Nínive. Mas ele pensou que, se o povo de Nínive ouvisse sua advertência e se arrependesse, Deus o perdoaria e sua profecia seria falsa. Foi por isso que Jonas fugiu e acabou sendo engolido por uma baleia.

Se, algum dia, fosse possível evitar uma calamidade graças à Agência de Premonições, como seria possível comprovar que a catástrofe teria ocorrido não fosse a prevenção possibilitada pelas visões?

De qualquer forma, valia a pena tentar. "Se fosse possível apenas demonstrar que uma grande catástrofe foi evitada desta forma", escreveu Barker, "o projeto teria sido mais do que justificado, talvez para sempre".

Entre as premonições recebidas, 18 aparentemente se confirmaram e 12 delas vieram de duas pessoas.

Esses "videntes" foram Kathleen Lorna Middleton, professora de balé, e Alan Hencher, funcionário dos correios que tinha premonições acompanhadas de fortes dores de cabeça, desde que sofreu um acidente de automóvel.

Barker estabeleceu uma relação quase pessoal com esses dois "sismógrafos humanos", que pareciam ter um dom muito doloroso e pouco invejável, já que eles pressentiam tornados, mortes e acidentes em meio à angústia.

Nossas mentes racionais podem rejeitar facilmente os exemplos como meras coincidências, mas é também possível tentar dar sentido ao que aparentemente não tem, ou atribuir os casos a uma possível capacidade inconsciente de conectar informações, que teriam os chamados "superprevisores".

Por isso, aqui estão quatro dos casos mais arrepiantes para que você possa tirar suas próprias conclusões.

Click aqui e continue lendo no BBC News Brasil.




Nenhum comentário: