terça-feira, 20 de setembro de 2011

A mulher que o trem matou, não morreu

           “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. Dizia um antigo governador baiano, prenhe de razão. A Bahia de todos os santos, encantos e axés, é, também, a terra dos absurdos. Diria um amigo meu: Aqui, galinha cisca pra frente, puta tem orgasmo e cafetão tem ciúmes. E o baiano é cheio de direitos. Eu vou usar um exemplo simples para tentar explicar a natureza do baiano, principalmente daquelas almas mais simples que vivem no limite da pobreza. Eu estava jogando um baba (pelada pra mim é mulher nua) quando, bola vai e bola vem, o juiz apitou uma falta a favor do meu time. Quando eu me preparava para cobrar a penalidade, o juiz apitou um jogador do time adversário se adiantou e tocou a bola para outro jogador de seu time. Nem eu nem o juiz entendemos nada. Quando cobramos explicações, o rapaz disse, cheio de direito: “ele (o juiz), apitou”.
            Fazer o que? O baiano é assim. Aliás, em muitos aspectos, muito parecido com os cariocas. O humorista Chico Anísio conta um caso em que ele dirigia um automóvel pelas ruas do Rio de Janeiro quando parou num sinal vermelho. O ônibus que vinha atrás não parou e bateu no fundo do carro dele. Quando ele desceu do carro e tentou protestar, o motorista, pela janela do ônibus mesmo, falou: “A culpa é tua. Nesse sinal aí só quem para é paulista”.
            Na década de 60 eu, ainda garoto, ouvia uma estória de que um comerciante de Feira de Santana comprara em mãos de um vigarista, uma “Máquina de Fazer Dinheiro”. Era o golpe conhecido por aqui como o “Conto da Guitarra”. Ao fazer a demonstração, a máquina soltava notas originais, mas, concretizada a transação, quando o comprador ia fabricar as notas, não saía nada. Contrariado, ferido em seus brios de comerciante esperto e sentido-se lesado, ele procurou o delegado local para se queixar. Não ficou preso Deus sabe lá por que.
            Agora vejo no noticiário local uma história que ultrapassa os limites do absurdo. Trata-se do seguinte: Dona Suzancleide, moradora da cidade de Pindobaçu, era casada com o Fábio Júnior, sujeito bem apessoado, trabalhador, que povoava a fantasia das piriguetes do lugar. E uma delas, mais afoita, a Keith Swellen, achou de “dar em cima” do Fábio Júnior, até que ele cedeu sob os seus encantos e começaram a viver um tórrido caso de amor.
            Mas mentira tem perna curta, seja na Oropa, França ou Bahia. E um belo dia dona Sunzancleide descobriu a traição. Porém, antes de perder o marido, melhor eliminar a concorrência. E não pensou duas vezes. Procurou um ex-namorado e ex-presidiário, o Maicon Jackson, e mediante a promessa de pagamento de certa quantia, contratou o assassinato da rival. Contudo, ele deveria apresentar a prova do serviço feito para receber o pagamento.
            Malandro, e sabedor de que se fosse preso mais uma vez as autoridades jogariam fora a chave da sua cela, Maicon entrou em contato com sua potencial vitima e abriu o jogo. Combinou com ela que fariam uma encenação, fariam fotos e apresentariam as “provas” do crime para a contratante. Recebido o pagamento, dividiriam a bolada.
            Dito e feito. O Maicon levou a Keith Swellen, amarrada e amordaçada para um matagal, jogou catchup sobre seu peito e colocou uma faca sob o seu braço esquerdo, dando a impressão de que estava cravada no coração. Cena montada e foto feita. Trato justo, trato feito. Ele levou a prova do crime para a contratante e recebeu dela a quantia acertada.
            Tempos se passaram e, com eu disse, mentira tem pernas curtas, um belo dia, eis que dona Sunzancleide vai se divertir numa balada, e lá encontra o Maicon aos beijos e abraços com a defunta Keith Swellen. Descoberta a farsa, ela não se conformou e foi até a delegacia mais próxima e se queixou ao delegado de que fora roubada, pois pagara por um serviço que não foi realizado.
            Acabaram os três presos. A mandante, o suposto assassino e a suposta defunta.
            Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente.
        

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