Sua posse é caso de polícia em alguns países e, nos
EUA, a vigilância das autoridades alimenta um "contrabando
gastronômico".
Trata-se da fava tonka ou cumaru. O fruto nasce da
flor de uma árvore tropical da família das leguminosas e que cresce em toda a
região norte da América do Sul - incluindo os Estados brasileiros do Amazonas e
do Pará.
Moídas e salpicadas sobre sobremesas, ou misturadas
a caldas, suas sementes têm um sabor tão especial que ganharam o apelido de
"o mais delicioso ingrediente de que você nunca ouviu falar".
Notas herbais se misturam com baunilha, alcaçuz,
caramelo e cravo, pelo menos de acordo com a internet. Mas há quem simplesmente
diga que o cumaru cheira a lustra-móveis.
"É realmente delicioso. Mas desde que você não
use em grandes quantidades, pois isso pode causar morte", explica Thomas
Raquel, chef de sobremesas do renomado restaurante Le Bernardin, em Nova York.
O curioso é que a venda de cumaru para consumo é
proibida nos EUA desde 1954, e alimentos contendo o produto são considerados
adulterados pela vigilância sanitária.
Isso não impede que apareçam em cardápios de
restaurantes e que os americanos sejam os maiores importadores das sementes no
mundo.
O cumaru contém grandes quantidades de cumarina,
substância que dá o sabor às sementes e é encontrada em centenas de plantas,
incluindo tipos de grama e cereja. Mesmo quem nunca viu uma fava tonka na vida pode
já ter sentido seu aroma sem saber.
Cientistas isolaram a cumarina pela primeira vez em
1820 - o nome da substância vem de coumarou, como é conhecida no Caribe
a árvore de onde vêm as sementes. Nos anos 1940, o produto já era amplamente
usado como aditivo sintético. Barato, substituía a baunilha, sendo misturado a
chocolate, doces e mesmo refrigerantes.
Também passou a ser misturado a tabaco e usado na
fabricação de perfumes.
Mas surgiu um problema: estudos em cães e ratos
revelaram que a cumarina era também altamente tóxica - mesmo pequenas
quantidades causavam danos consideráveis ao fígado em apenas algumas semanas.
Em carneiros, por exemplo, apenas uma dose de cinco gramas da substância
bastaria para matar.
Os grãos e seu aditivo acabaram proibidos nos EUA e
em vários países da Europa.
Até hoje, porém, eles continuam sendo usados.
"Digamos que sabemos onde encontrá-los",
afirma o restauranteur Paul Liebrandt, ex-dono da renomada casa nova-iorquina
Corton.
Tudo isso apesar da constante vigilância das
autoridades americanas, que na década passada fizeram até batidas policiais em
restaurantes gourmet. Grant Achatz, chef do Alinea, em Chicago, conta que uma
vez recebeu visita de agentes da FDA, a agência americana que fiscaliza drogas
e segurança alimentar.
Tonka e cumarina ainda aparecem na composição de
aromatizantes à base de baunilha no México, normalmente para disfarçar produtos
de má qualidade. Isso mostra que não é apenas em restaurantes finos que podemos
ser expostos ao cumaru. No Brasil, por exemplo, pode ser comprado pela internet
- um quilo pode custar R$ 280.
Mas as restrições legais à cumarina normalmente se
aplicam aos alimentos. É perfeitamente legal adicioná-la ao tabaco e a
cosméticos. A substância também é usada em detergente, sabonete líquido,
desodorantes e perfumes conhecidos, como o Coco Mademoiselle - apesar de poder
ser absorvida pela pele e pela membrana pulmonar.
A cumarina aparece até em alguns tipos de cigarros
eletrônicos.
E é bem capaz de, mesmo sem saber, você ter a
substância na cozinha. A canela que comumente é vendida no mundo não é o pó da
casca da planta conhecida pelo nome científico Cinamomum verum, natural
do Sri Lanka, mas, sim, um "genérico asiático", a Cinamomum cassia.
A diferença? A "impostora" contém 25 mil
vezes mais cumarina.(Leia mais no BBCBrasil)
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