quinta-feira, 8 de março de 2018

Mulher guerreira



São tempos estranhos. A gente tem medo de escrever um texto e elogiar uma mulher, sem chamá-la de guerreira. E de oferecer flores, porque perdemos aquela tênue delicadeza da humanidade que separa assédio, de gentileza; mecanicismo, de afeto; acordo de convivência, de carinho; ternura de beligerância. Renunciamos ao etéreo que nos move e redime, pelo terreno que nos cerceia.
Não é à toa que o amor perdeu a grandiosidade e o arrebatamento e Shakespeare jamais escreveria novamente seu Soneto CXVIII. Ainda somos os mesmos, ainda que não vivamos como nossos pais e o mundo exija salários iguais- por desempenhos iguais e não por cargos iguais, espero, senão vira protecionismo-, divisão de tarefas e liberdade ao corpo, embora, saibamos, que não se encanta almas com uma pilha de pratos, e uma coisa só pudesse existir, excluindo a outra. É possível reconhecer a corajosa luta da mulher para ter espaço e liberdade, sem excluir o outro lado.

Não, nada temos contra que um batalhão só delas, nas Forças Armadas, façam o próximo desembarque da Normandia, ocupem desde as vagas da limpeza pública até a NASA, assim como tenham a liberdade de serem belas, recatadas, e do lar, car girls, ou o que forem, afinal, o corpo é delas e a liberdade feminina em seu extremo garante que cada uma faça o que quiser, e não o que querem que ela faça. E devem ser respeitadas em todas as escolhas, todas, não as apenas compatíveis com os interesses dos que ditam as regras do que é compatível. Precisamos sim, combater a violência - essa estupidez intolerável-, seja sexual ou física, contra qualquer um, mas sem permitir que criminalização universal transforme a solidão da distância no apocalipse dos tempos modernos.
Interessantemente, trabalho em 2 empresas. Uma tem 65 funcionários, e apenas 5 homens. Todas as demais vagas, inclusive toda diretoria, é feminina. Na outra, somos apenas, sete, e dois homens, contando eu ( não custa citar). O outro, é o entregador do jornal. E isso é respeito.
Apesar de tantas mulheres, ou por trabalhar com tantas mulheres, sei o quanto rendem e o quanto são capazes de produzirem. E já aprendi que não são boas ou ruins por serem mulheres, mas por serem humanas.
Dito isso, afinal, é preciso certos certificados para existirmos, rendo homenagem, um tanto escabreado, e antiquado, às Helenas, pelas quais, enfeitiçados, fazemos guerras, e morremos, pela conquista do seu coração; pelas quais movemos mundos, inventamos versos, navegamos intempéries e semeamos insanidades; pelas quais perdemos o rumo quando ela vem feito bailarina de alegorias dentro de seu vestidinho e faz com que nossas maiores certezas sejam porteiras de palhas; pelas quais achamos que somos impérios incas invencíveis, quando ela diz que sim, que somos o melhor, e que ela não sabe o que está acontecendo com ela de tanta vontade de permanecer na gente; e a vida sai de sua condição de tragédia e miséria para a glória, e todos os céus se fecundam grávidos desse encontro.
Sim, respeito, sim, absoluto, mas que as flores nunca se tornem desnecessárias, porque em um mundo em que elas sejam inúteis já não há mais nenhuma razão de ser.
Faço minha, esta lavoura arcaica. De rosas. As que aceitam, salvem-me.

Nenhum comentário: