quinta-feira, 5 de julho de 2018

Luz, selfies, eleição: a formatura dos 'aprendizes' que prometem renovar política no Brasil

Cadeiras enfileiradas, lágrimas de emoção, discursos de superação... Todos os elementos de uma formatura estavam lá. Mas aquela não era uma cerimônia comum, e nem em um lugar trivial: era o encerramento, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, do curso da primeira turma do RenovaBR, uma espécie de "escola" para 133 novatos na política.
Desde o início do ano, os alunos do RenovaBR - chamados no programa de "lideranças" - participam de aulas presenciais e online sobre temas como marketing político, segurança pública e transparência. Para chegar ali, passaram por um processo seletivo que começou com mais de 4 mil candidatos. Uma vez escolhida a primeira turma, passaram a receber bolsas mensais de R$ 5 mil a R$ 12 mil (o valor varia de acordo com o custo de vida na cidade de residência).
Autodenominado um "instituto de formação de novas lideranças políticas" e uma "iniciativa da sociedade, para a sociedade", o RenovaBR foi idealizado pelo empresário Eduardo Mufarej e tem como entusiastas o apresentador de TV Luciano Huck e o também empresário Abílio Diniz.

A ideia é "preparar gente comprometida e realizadora para entrar na política", como diz o manifesto online do RenovaBR, que buscou selecionar "pessoas com diferentes ideias, mas que têm em comum a crença de que política é lugar de honestidade, diálogo e dedicação".
O financiamento vem de pessoas físicas e organizações filantrópicas - os nomes dos doadores devem ser divulgados até julho e o montante arrecadado, até o fim do ano.
A etapa final do RenovaBR teve lugar em um hotel de Brasília. Ali, os bolsistas dividiram quartos e participaram de palestras em clima de conferência - câmeras ligadas, cafezinho nos cantos e banners com a hashtag #OBrasilTemJeito. Em atividades externas, também foram de ônibus fretados conhecer o Congresso Nacional e ouvir palestras com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e os senadores Ana Amélia e Cristovam Buarque.
Maioria estreia nas urnas
Após alguns meses de teoria, a aproximação das eleições, em outubro, indica que está chegando a hora de colocar o preparo no curso em prática. Mas, antes do registro oficial das candidaturas - previsto para julho e agosto -, as "lideranças" são, ainda, pré-candidatos.
Para 67% dos bolsistas, 2018 será ano da primeira eleição. Outros já participaram de pleitos, mas nunca assumiram cargos eletivos - uma regra para estar no RenovaBR.
Por ter 21 anos, o estudante de Direito Julio Lins por pouco não conseguiu se candidatar. Essa é a idade mínima, segundo a Constituição, para que uma pessoa possa ser eleita ao cargo de deputado estadual - ao qual Lins irá disputar filiado ao Partido da Mobilização Nacional (PMN), pelo Amazonas. Ele é o bolsista mais novo do RenovaBR. 
O universitário relata, com orgulho, ter organizado a primeira manifestação, "pela defesa da educação", aos 15 anos, e ter dado os primeiros passos políticos no movimento estudantil. Também diz ter liderado, em seu Estado, protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff - que foi retirada do cargo em 2016.
Apesar do seu passado - e, a depender das urnas, de seu futuro -, Lins diz que ambiciona ser diplomata e escritor, mas que vê a política como um passo importante.
"A política me tirou muito, mas não vou mentir que ela é a minha paixão", diz o jovem. "Não quero isso (a política como carreira) para a vida toda, na verdade enxergo tudo isso como uma contribuição que quero deixar".
Mas Lins diz não ter como objetivo, necessariamente, ganhar a eleição.
"Quando a gente coloca a vitória como objetivo, acho que ficamos mais sujeitos a alguns erros da velha política. Quero pautar as eleições com os meus princípios" diz o pré-candidato, que se define como "libertário" e foi porta-voz do movimento Vem pra Rua entre 2015 e 2016.
Também pré-candidata de primeira viagem, a arquiteta Juliana Sales, 27 anos, teve os contatos iniciais com a política trabalhando em setores de urbanismo no Executivo e Legislativo em Minas Gerais, onde agora quer ocupar uma cadeira como deputada estadual pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS). Apesar da filiação, ela diz ter acordado com o partido se portar como um quadro independente, uma vez que a legislação não permite as chamadas candidaturas avulsas (sem filiação partidária).
"Eu via que dava para fazer diferente, com menos recursos e mais eficiência... No Executivo, principalmente, eu via que a distribuição de cargos com perfis políticos, e não técnicos, inviabilizavam um projeto importante", lembra Sales, que ainda não sabe se quer concorrer a outras eleições no futuro.
A arquiteta investe desde 2016 em vídeos nas redes sociais com motes como "De onde veio essa tal Política? E esse ser chamado Político?" e "Você sabe o que é Reforma Política?". Ela, como talvez a totalidade das "lideranças" do RenovaBR, contará com uma plataforma de crowdfunding para seu financiamento e com as mídias sociais para divulgação - as atividades do programa em Brasília eram rotineiramente registradas pelos futuros candidatos em selfies e transmissões ao vivo nas redes.
Nas aulas e nas conversas de corredor, parece consenso entre os bolsistas contar com pouco ou nenhum acesso aos fundos eleitoral e partidário dentro de suas siglas - isso ficará a cargo de cada partido.
"O desafio de um cidadão comum entrar na política é muito grande. Os caras têm toda uma estrutura, e a gente está entrando com a nossa vontade e valores para concorrer com esses caras", diz Sales, que conta por enquanto com uma equipe de voluntários. Click no link e leia matéria completa no BBCBrasil

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