Cadeiras enfileiradas, lágrimas de
emoção, discursos de superação... Todos os elementos de uma formatura
estavam lá. Mas aquela não era uma cerimônia comum, e nem em um lugar
trivial: era o encerramento, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, do
curso da primeira turma do RenovaBR, uma espécie de "escola" para 133
novatos na política.
Desde o início do ano, os alunos do RenovaBR
- chamados no programa de "lideranças" - participam de aulas
presenciais e online sobre temas como marketing político, segurança
pública e transparência. Para chegar ali, passaram por um processo
seletivo que começou com mais de 4 mil candidatos. Uma vez escolhida a
primeira turma, passaram a receber bolsas mensais de R$ 5 mil a R$ 12
mil (o valor varia de acordo com o custo de vida na cidade de
residência).
Autodenominado um "instituto de formação de novas lideranças
políticas" e uma "iniciativa da sociedade, para a sociedade", o RenovaBR
foi idealizado pelo empresário Eduardo Mufarej e tem como entusiastas o
apresentador de TV Luciano Huck e o também empresário Abílio Diniz.
A
ideia é "preparar gente comprometida e realizadora para entrar na
política", como diz o manifesto online do RenovaBR, que buscou
selecionar "pessoas com diferentes ideias, mas que têm em comum a crença
de que política é lugar de honestidade, diálogo e dedicação".
O
financiamento vem de pessoas físicas e organizações filantrópicas - os
nomes dos doadores devem ser divulgados até julho e o montante
arrecadado, até o fim do ano.
A
etapa final do RenovaBR teve lugar em um hotel de Brasília. Ali, os
bolsistas dividiram quartos e participaram de palestras em clima de
conferência - câmeras ligadas, cafezinho nos cantos e banners com a
hashtag #OBrasilTemJeito. Em atividades externas, também foram de ônibus
fretados conhecer o Congresso Nacional e ouvir palestras com o ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e os senadores
Ana Amélia e Cristovam Buarque.
Maioria estreia nas urnas
Após
alguns meses de teoria, a aproximação das eleições, em outubro, indica
que está chegando a hora de colocar o preparo no curso em prática. Mas,
antes do registro oficial das candidaturas - previsto para julho e
agosto -, as "lideranças" são, ainda, pré-candidatos.
Para 67%
dos bolsistas, 2018 será ano da primeira eleição. Outros já participaram
de pleitos, mas nunca assumiram cargos eletivos - uma regra para estar
no RenovaBR.
Por ter 21 anos, o estudante de Direito Julio Lins
por pouco não conseguiu se candidatar. Essa é a idade mínima, segundo a
Constituição, para que uma pessoa possa ser eleita ao cargo de deputado
estadual - ao qual Lins irá disputar filiado ao Partido da Mobilização
Nacional (PMN), pelo Amazonas. Ele é o bolsista mais novo do RenovaBR.
O universitário relata, com orgulho, ter organizado a primeira
manifestação, "pela defesa da educação", aos 15 anos, e ter dado os
primeiros passos políticos no movimento estudantil. Também diz ter
liderado, em seu Estado, protestos pelo impeachment da ex-presidente
Dilma Rousseff - que foi retirada do cargo em 2016.
Apesar do seu
passado - e, a depender das urnas, de seu futuro -, Lins diz que
ambiciona ser diplomata e escritor, mas que vê a política como um passo
importante.
"A política me tirou muito, mas não vou mentir que
ela é a minha paixão", diz o jovem. "Não quero isso (a política como
carreira) para a vida toda, na verdade enxergo tudo isso como uma
contribuição que quero deixar".
Mas Lins diz não ter como objetivo, necessariamente, ganhar a eleição.
"Quando
a gente coloca a vitória como objetivo, acho que ficamos mais sujeitos a
alguns erros da velha política. Quero pautar as eleições com os meus
princípios" diz o pré-candidato, que se define como "libertário" e foi
porta-voz do movimento Vem pra Rua entre 2015 e 2016.
Também
pré-candidata de primeira viagem, a arquiteta Juliana Sales, 27 anos,
teve os contatos iniciais com a política trabalhando em setores de
urbanismo no Executivo e Legislativo em Minas Gerais, onde agora quer
ocupar uma cadeira como deputada estadual pelo Partido Humanista da
Solidariedade (PHS). Apesar da filiação, ela diz ter acordado com o
partido se portar como um quadro independente, uma vez que a legislação
não permite as chamadas candidaturas avulsas (sem filiação partidária).
"Eu
via que dava para fazer diferente, com menos recursos e mais
eficiência... No Executivo, principalmente, eu via que a distribuição de
cargos com perfis políticos, e não técnicos, inviabilizavam um projeto
importante", lembra Sales, que ainda não sabe se quer concorrer a outras
eleições no futuro.
A arquiteta investe desde 2016 em vídeos nas
redes sociais com motes como "De onde veio essa tal Política? E esse
ser chamado Político?" e "Você sabe o que é Reforma Política?". Ela,
como talvez a totalidade das "lideranças" do RenovaBR, contará com uma
plataforma de crowdfunding para seu financiamento e com as mídias
sociais para divulgação - as atividades do programa em Brasília eram
rotineiramente registradas pelos futuros candidatos em selfies e
transmissões ao vivo nas redes.
Nas aulas e nas conversas de
corredor, parece consenso entre os bolsistas contar com pouco ou nenhum
acesso aos fundos eleitoral e partidário dentro de suas siglas - isso
ficará a cargo de cada partido.
"O desafio de um cidadão comum
entrar na política é muito grande. Os caras têm toda uma estrutura, e a
gente está entrando com a nossa vontade e valores para concorrer com
esses caras", diz Sales, que conta por enquanto com uma equipe de
voluntários. Click no link e leia matéria completa no BBCBrasil
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