domingo, 31 de janeiro de 2021

Histórias da Princesa

 


Dando continuidade a nossa série de histórias e estórias de Feira de Santana, vamos contar um pouco sobre um cidadão que marcou época em Feira de Santana na década de 60, pessoa que por tudo que representava para a juventude da época, merece um maior reconhecimento da terra que ele tanto defendeu e amou”.

Sargento Aranha


Antônio Antunes dos Santos, pernambucano de Recife, nascido em 15 de agosto de 1920, o eterno ‘Sargento Aranha’, mesmo depois de ter sido elevado a 1º tenente. Foi uma figura que marcou época em Feira de Santana. Depois de Comandar a Polícia Especial em Salvador, veio para esta cidade, como instrutor do Tiro de Guerra 17 (TG-17) que tinha sede na Praça Dois de Julho, Rua Desembargador Filinto Bastos (Rua da Aurora). Era militar na extensão da palavra. Não admitia brincadeiras ou “corpo mole” nas atividades que comandava. O amor à pátria aflorava em cada atitude.

Nos desfiles de 7 de setembro e 2 de Julho, ou qualquer outro momento cívico, ele estava à frente, liderando, com passadas largas, pisando forte, peito estufado e voz de trovão. E ai de quem não lhe acompanhasse! Fundou a Escola Dois de Julho, com fardamento verde-amarelo, que funcionava nesta cidade e em Conceição do Jacuípe. O conceito era a Pátria e os pais corriam para colocar seus filhos nesse estabelecimento. Antes de vir para a terra de Santana fora lutador e já com a idade avançada para a prática de luta livre, aceitou o desafio de um pugilista profissional jovem, em nome de Feira de Santana.

Sargento Aranha foi professor de Educação Física do Ginásio Santanópolis, e foi eleito vereador em 1963, como primeiro militar a chegar à Câmara Municipal na era pós Segunda Guerra. Foi substituído no cargo pelo suplente José Ferreira Pinto. Em 1970 voltou a ser eleito, mas renunciou, e foi substituindo pelo advogado e professor Nilton Belas Vieira. Era um brasileiro convicto e não aceitava, em hipótese alguma, que alguém falasse mal de Feira de Santana ou do Brasil na sua presença. Mas era de um coração talvez maior que seu corpanzil. Emocionava-se a uma demonstração de amor à pátria e fora do rigor das atividades oficiais era um ser extraordinariamente afável.

Promovia torneios esportivos, festas e outros eventos para os quais os jovens acorriam sabedores de que ali haveria ordem e respeito. Os festejos de São João que realizava na sua residência, na Rua Araújo Pinho, são lembrados com saudade pelas pessoas daquela época. Fartura em bolos, canjica, milho verde, amendoim, licores, muito forró. Sair da linha, nem pensar! No esporte também marcou. Apaixonado pelo futebol construiu um campo às margens da atual Avenida João Durval. Mas a gurizada tinha que estudar para jogar no time do ‘Sargento Aranha’, que não gostava de perder. Há fatos no mínimo hilários ocorridos no futebol, envolvendo esse patriota sem igual.

Sobre ele, escreveu o jornalista Zadir Marques Porto: “Um patriotismo que tinha sido medido pela sua própria estatura – mais de 1,95 m, de músculos e vitalidade – aliada às atitudes, ao ponto de dar a um dos seus filhos o nome de Brasil. De aparência irascível, que chegava a amedrontar, na verdade era um bonachão, um homem preocupado com todos os que queriam, sim, um país melhor e um povo com o necessário espírito de civismo. E nessa missão se empenhava tanto que, às vezes, por não o entender, muitos achavam que ele era intransigente e mandão. Sem querer plagiar - uma seção da revista tradicional Seleções Reader’s Digest, poderíamos incluí-lo em ‘Meu Tipo Inesquecível’, muito embora seja visto por perto pouquíssimas vezes”.

Zadir lembra também de fatos hilários protagonizados pelo Sargento Aranha durante jogos de futebol promovidos por ele:

“Num jogo duro no Campo Dois de Julho com o time do Sargento, que também era o juiz, os times empatavam em 0 x 0. Apito final e garotada deixando o campo quando um apito forte e vozeirão do sargento se faz ouvir: “Volta todo mundo”. E a meninada sem entender o motivo e Aranha no seu tom incontestável: “Esqueci de marcar um pênalti”! – naturalmente, para o time dele.

O goleiro adversário debaixo da trave e o jogador do Dois de Julho, escolhido para cobrança, nervoso com uma responsabilidade, deu um violento chute para longe.

– É. Teve que ser empate mesmo -, balbuciou Aranha, enquanto deixava o campo.

Em outra oportunidade, durante um jogo no Campo da Usina de Algodão, que ficava próximo ao atual Colégio General Osório, no início da Rua Castro Alves, também estava empatado quando um atacante, depois de bela jogada, chutou muito forte e a bola passou raspando a trave defendida por Branco, excelente goleiro, apesar da baixa estatura. Aranha acompanhou o lance e saiu correndo para o meio de campo. Como era natural, o goleiro protestou:

– Foi pra fora Sargento.

E Aranha categórico: “Mas se fosse dentro você não pegava!”.

Muitos outros casos engraçados ocorreram com o espirituoso Sargento Aranha, mas nada comparável ao seu patriotismo, seu espírito militar, seu amor pela família e aos valores morais. Por tudo que representam para a juventude da época, Antônio Antunes dos Santos, mereceria um maior reconhecimento da terra que ele tanto defendeu e amou”.

Com dados do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana e do jornalista Zadir Marques Porto

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