segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O fim do começo e os berros inúteis

Infelizmente, há uma luta política intestinal, que deturpa o debate e vitimiza os brasileiros, contaminados pela insanidade ideológica e contagiados pela Covid-19. Nenhuma barbárie que pudéssemos imaginar para este século nos reservaria as câmaras frigoríficas e mortes por asfixia, em Manaus.

As mortes sem luto, solitárias, sem as famílias, já tão terríveis, são, agora, agravadas pelo dantesco desespero por oxigênio. O caos administrativo, gerado por uma estrutura de poder corrupta e incapaz, no estado, e por um Ministério da Saúde atônito e sem diretriz, que interpreta errado os ciclos da doença, está cobrando, violentamente, o preço de nossa leniência.

Simbolicamente, o Ministério da Saúde tem na perda de testes estocados em um galpão de aeroporto; na falta de seringas, pois não foram compradas a tempo; na falha de compras prévias das vacinas, que obriga o governo a ficar de pires na mão diante da Índia e da China, correndo para compensar a letargia; e no desmascaramento das mentiras contadas pelo ministro da Saúde o perfeito retrato de seus desmandos. Além disso, temos a opção, letal, do presidente pela imunidade de rebanho, inatingível sem vacina ou atingível, apenas, se aceitarmos uma hecatombe sanitária.

Depois da Amazônia, Rondônia já anuncia o colapso da Saúde. Também Minas, e até São Paulo. Os estados do Norte, distantes, isolados, com serviços precários, irão cair um após o outro, em trágico dominó.

A campanha eleitoral, as festas de fim de ano e o Enem alimentaram a disseminação do vírus, inclusive com nova cepa, brasileira, talvez mais contagiosa, que acaba de ser detectada no Japão e em uma série de nove casos na Inglaterra.

Não há nenhuma certeza de que as novas cepas podem ser controladas ou escaparem das vacinas. Estudos iniciais mostram que sim, para a variante inglesa (por uma vacina), mas não para a africana.

Quanto mais gente infectada, maior a chance de desenvolvimento de uma variante com “escape imunológico”, o que nos daria um cenário devastador inimaginável. Isso torna mais urgente e imperativo o esforço de vacinar, de conter o contágio, para reduzir a chance de novas mutações. Os vírus são sobreviventes natos e caçam falhas, através de suas mutações, para a sobrevivência. É um competidor feroz, nessa corrida.

Longe desse texto querer assustar o leitor. O que não admito mais – e isso desperta os meus instintos mais primitivos – é essa apropriação política da pandemia, essa instrumentalização da tragédia e da morte para a disputa de poder, que repercute, nas redes sociais, com seu debate inútil e feito aos berros. O que desejo é alertar que estamos em uma guerra; que, nas guerras, há dores e sacrifícios, mas que não existe outro caminho para vencer.

Nós ainda não vencemos e o inimigo muda o poder de contágio e ferocidade de forma progressiva. Lembro-me de Churchill, após a vitória em El Alamein, dirigindo-se aos britânicos: isso não é o fim, não é nem mesmo o começo do fim, mas, talvez, seja o fim do começo. Estamos apenas no fim do começo e se não nos unirmos, pagaremos em desespero, falência e mortes o custo de nossa desunião.

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