domingo, 11 de junho de 2023

 


* Comigo aconteceu...*

         Quando nos apresentam alguém, somos, por índole, embalados na crença de ser a primeira impressão, perfeita tradutora do apresentado. Dado ao velho “achismo”, assumimos ser a interpretação mental ao apertar de mãos, fiel retrato de quem passamos a conhecer. 

    Vezes outras, mais raras, quando do primeiro encontro, atormenta-nos grande incógnita. Em tal caso, de forma instintiva, tornamos o encontro das mãos mais demorado, no esforço de decodificar quem, de fato, seja o recém-conhecido. Outrossim, tirante a importunidade de externar a dúvida, resta a alternativa de recorrer a terceiros versados em significados outros, figurinos distintos, digamos: foi o acontecido comigo, dia desses. 

      Para início de conversa, figuradamente, amparo-me em verso musical do tempo velho, “comigo aconteceu gostar da namorada de um amigo meu”. Parodiando-o, comigo aconteceu gostar de certa apresentação feita por um amigo meu, letrado e viajado, com o qual mantenho há milhares de dias, intensa convivência virtual. 

        Acesa a curiosidade, explico-me. 

      Ao ler texto do citado correspondente, ao referir-se a certas cogitações minhas, acudiu-me enorme ponto de interrogação, escrevera ele: “Para começarmos 2020 serendipitosamente ...” 

    Serendipitosamente!

    Tipo mais estranho matutei e, antes de recorrer a meus dicionários, esforcei-me em decifrar tal sujeito com ares de nobreza e cara de lorde inglês, ao qual apertava a mão pela vez primeira. Esforço inócuo: nos ‘mata-burros’, nada vezes nada.

    Tem jeito não, - pensei contrafeito – a solução será apelar ao Google, senhor de todos os saberes. Teclei pausada e sequencialmente: S... E... R... E... N... D... I... P, momento no qual, passe mágico, surgem opções para conhecer-se o ente batizado por Serendipitia. 

    Eureka! O apresentado, vestido de advérbio, substantivamente chama-se Serendipitia ou Serendiptismo. 

    Trata-se de anglicanismo, oriundo da palavra Serendipity criada pelo escritor britânico Horace Walpole, em 1754, a partir do conto persa “Os três príncipes de Serendip”. Em tal história infantil acontecem descobertas afortunadas, aparentemente, por acaso. Serendip foi o nome antigo do Ceilão, atual Sri Lanka.

     O conceito original de serendiptismo foi muito usado em sua origem. Nos dias atuais é considerado como forma especial de criatividade ou uma das técnicas de desenvolvimento do potencial criativo de pessoa adulta, ao aliar perseverança, inteligência e senso de observação. 

    Caracas! (In) diretamente o amigo mineiro, conhecedor do neologismo - turíbulo em brasa com incenso muito - valera-se do dito, de forma sutil, para elogiosa provocação.    

    Na santa ignorância dos acostumados a patinar em (des)dizeres alheios, boiei ante à ignorância da qual ora me redimo. 

    Parafraseando o poeta, ratifico, comigo aconteceu gostar de certa palavra de amigo meu. Assim, agradecido pela inusual apresentação, indutora ao prazeroso momento de narrá-la, divido o conhecimento com quantas e quantos me distinguirem com suas leituras.


Hugo A de Bittencourt Carvalho

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