segunda-feira, 26 de junho de 2023

Crônica de segunda

 

São João no Boteco do Vital

         Havia duas Marcias que frequentavam o Boteco do Vital, barzinho localizado na esquina das ruas Comandante Almiro e Boticário Moncorvo, na Kalilândia. Quando fui morar lá a Kalilândia se resumia à simpática praça construída pelo Dr. Kalili, morador ilustre do local. Hoje é um grande bairro nobre da cidade, já envolvido pelo centro comercial, mas ainda com algumas residências. Voltando às duas Marcias, para diferenciá-las passamos a chama-las de Marcia do Cabelo Bom (Marcia Cardoso), e Marcinha Regae Night (Márcia Norões). As duas muito simpáticas e alegres. E Marcinha Regae Night quem encontrei um dia por lá, lamentando não ter nenhum forró pra ir naqueles dias que antecediam a  noite de São João. “Será que ninguém vai acender nem uma fogueira pra gente se esquentar”? – Reclamava ela.

         Eu, sempre festeiro, falei: É uma fogueira que você quer, Marcinha? Você vai ter. E todo mundo sabe que cumpro minhas promessas. Depois, conversando com Vital, o dono do Bar, eu disse que a gente poderia ter um trio de forró tocando, no bar se ele deixasse. Ele disse que tudo bem, mas ele não podia pagar. Prometi então tentar arrumar um. E fui à Secretaria de Turismo, onde eu sabia que havia alguns grupos que a Prefeitura sempre contratava para animar festas em bairros. Geralmente em praça pública, mas um pedido de um jornalista tinha algum peso. Falei com o colega Geraldo Lima, que trabalhava lá, e ele disse que tinha ali exatamente o que eu precisava. E me apresentou João, do Grupo Anita do Acordeon. “Pode marcar com eles dia e hora, que o pagamento eu ajeito aqui. Eles têm uma “conta corrente” aqui com a gente. Brincou Lima.

         Quando disse a Vital que tinha conseguido um trio de forró e que ele não ia pagar nada, ele se animou e começou a fazer preparativos para a grande noite do forró. Colocou bandeirolas, colocou pindobas nas colunas da varanda. E a notícia se alastrou como fogo em mato seco. Marcinha ficou eufórica, e as meninas todas que frequentavam o Boteco se assanharam. Só se falava no forró. Na noite e na hora acertada, Anita estava lá com seu acordeon e a fogueira que eu prometera já estava acesa e já tinha gente soltando fogos. Eu e Maura chegamos vestidos a caráter, e nos esbaldamos na farra. Era tanta alegria e animação que eu fique comovido. Vital era só sorrisos e gentilezas. Até sua esposa Edilma e os seus filhos foram lá pra ajudar a servir o povo. Pode-se afirmar que, naquele dia, São João passou por ali.

         Mas, como nem tudo é perfeito, tinha que aparecer um estraga prazer. Como eu disse, muitas moças frequentavam o Boteco, e mulheres casadas também, porque o ambiente sempre foi de respeito. Mas havia também fofoqueiras e mal amadas, cujo prazer era promover a intriga e a desunião dos casais. Como naquele dia havia mais mulheres do que homens na festa, a brincadeira do “Tira Chapéu” foi feita com as mulheres que estavam sem dançar, colocassem o chapéu na cabeça do par de alguém, tomasse seu parceiro, e a moça que fosse botar o chapéu na cabeça de outra para lhe tomar o par. Uma dessas fofoqueiras, saiu da festa e foi até a casa de um dos participantes da festa, para lançar o pomo da discórdia. Disse à esposa do cidadão que ele estava numa festa no Boteco “na maior senvergonhice”, dançando com tudo quanto era mulher.

A “madame” saiu enfurecida e foi ver de perto. Quando ela chegou na porta, foi justamente o momento que Maura colocava o chapéu na moça que estava dançando com o marido dela, e passou a dançar com ele. A mulher entrou no salão e desferiu um tapa no rosto da moça, que nem sequer a conhecia, e de tão espantada não reagiu. Só perguntou: A senhora está maluca? Àquela altura, a sanfona já tinha parado e todo mundo acorreu para separar a confusão. Mas a menina que levou o tapa, de graça, queria devolver. E coube a mim conter os “instinto selvagens dela, enquanto Maura conversava com a Madame. Foi pior. Porque ela disse que Maura havia colocado o chapéu nele porque viu a aproximação dela e tentou acobertar. Não prestou não. Maura disse a essa mulher o que o diabo não gostaria de ouvir. Foi quando a madame caiu em si e tomou consciência do papel ridículo que fizera. Mas não saiu de lá e o pobre do marido não teve mais animação pra nada.

Mas a gente, que não tinha nada com isso, voltamos pro forró e dançamos até umas horas. Eita, São João bão danado, oxente!

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