sexta-feira, 27 de março de 2009

Os Chatos


Imagine um dia perfeito. Você está num lugar bastante agradável e não tem nenhum motivo para se aborrecer. Este é o ambiente propício para ele se manifestar. À sua simples aproximação o céu fica nublado, o vinho fica acre e a feijoada azeda. Então ele aparece. O Chato. Talvez seja ele o responsável maior por todos os males que afligem a humanidade. Ele Se manifesta das mais diversas formas. Pode ser aquele amigo inconveniente e pidão, aquele parente distante, um político, um gaiato, ou simplesmente sua sogra.
Um detalhe curioso é que o Chato, às vezes, nem sabe que é chato. Mas chateia. Já outros, sabem que são chatos e têm prazer em manifestar sua chatice. E quando ele percebe que está chateando, aí é que sua chatura cresce e se exibe qual uma cauda pavão. Nesse momento ele tem orgasmos de chatice.

Em criança já se conhece um Chato. O Chatinho é aquele que pede suas revistas em quadrinhos emprestadas, não devolve e ainda vem buscar mais. Na escola, quando ele consegue as notas mais altas, se diverte chateando os que tiveram notas inferiores às suas. O Chatinho não pratica esportes, não vai ao cinema, nem freqüenta locadoras ou lan houses. O Chatinho não namora, ele se diverte chateando as meninas. Seu habitat preferido é a sua casa, onde ele tem por prazer chatear as visitas.
Quando adulto, o Chato é mais refinado. Sua Chatice já está bem amadurecida. E ele sabe como, quando e a quem chatear. Eu imagino que os Chatos têm uma agenda, assim como nós homens, quando solteiros, temos com endereços e telefone de garotas, que podem estar disponíveis para encontros nos finais de semana. O Chato pega sua agenda e procura: “Vamos ver quem eu vou chatear hoje”.

Há, em Feira de Santana um célebre caso, envolvendo dois amigos, Falcão e Esquivel. Estavam por aí, pela noite, “comendo água”, quando apareceu um assaltante. Eles chatearam tanto que o assaltante não agüentou e desistiu de assaltá-los. “Mas que dois velhos chatos”, teria comentado o assaltante, muito chateado.
Luiz e Jaime são dois chatos famosos. Estavam um dia bebendo em bar, quando alguém disse a Jaime: “Ora, Jaime, vá pro inferno”! De imediato Luiz retrucou: “Não vá pro Inferno não Jaime, que eu não vou deixar você entrar. Já lhe aturei demais”.
Há diversos tipos de Chatos. Tem o “Chato Tagarela”, que não deixa ninguém falar; “Chato Sapiente”, que sabe mais que qualquer pessoa, sobre qualquer assunto; “Chato Galã”, que chateia as mulheres com cantadas velhas e chatas; “Chato Futucador”, que só conversa futucando o interlocutor, ou dando tapinhas nos braços, barriga ou ombros; “Chato Bebum”, que, curiosamente, só se torna Chato quando bebe. Há ainda um caso raro, do cara que só é chato quando está sóbrio.
Tem ainda o “Chato Mentiroso”, que conta mentiras achando que todo mundo acredita; “Chato Político”, que tem a solução certa para todos os problemas da administração pública; “Chato Religioso”, que bate à porta nas horas mais impróprias, para dizer que sua religião é a melhor de todas e que se você não se converter, vai queimar no fogo do inferno.
Tem também o “Chato Cri-Cri”, que, para mim, é o pior de todos os chatos. Ele não faz nada, não ajuda em nada, mas está sempre pronto a apontar defeitos no que está feito e dizendo que se ele tivesse feito, não haveria erros. É comumente chamado de “engenheiro de obras prontas”.
Por fim, se você estava esperando um final engraçado para esta crônica, olhe-se num espelho. Veja com que cara você está depois que eu chateei você o tempo todo com essa conversa.

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