sexta-feira, 31 de julho de 2009

Crônica da semana


O patrocinador

Sérgio Aranha faz um misto de filósofo e gozador. É do tipo que não leva a vida, deixa que ela o leve. Vai tocando seus dias sem muita pressa, sem reclamar, e curtindo o que ela tem de melhor. Entre um gole e outro, numa mesa de bar, diverte os amigos com suas observações espirituosas. Quando eu editava o jornal Sempre Livre, ele era um colaborador regular, seja dando sugestões de matérias e, às vezes, ele mesmo escrevendo alguma coisa engraçada.
Certo dia, alguém discutia religião no Bar do Vital, seu ponto favorito, e quando lhe questionaram sobre alguma coisa sobre religião, ele disse que não sabia não, e que ainda não tinha lido a Bíblia Sagrada porque tinha preguiça. E arrematou: “No dia que botarem em CD eu leio”. Eu então resolvi pegar no pé dele, argumentando que, por isso não, que já havia no mercado uma coleção de passagens bíblicas, em CD, gravada por Cid Moreira. E completei o argumento, dizendo que também diversos cantores populares já haviam gravado músicas contando histórias da Bíblia, e como exemplo, citei uma música de Renato Russo, onde ele utiliza um trecho da primeira carta de São Paulo aos Coríntios. Aranha rebateu na hora: “Ah, São Paulo e Corinthians, é clássico, não vale”.
Apreciador de uma cerveja, todo final de semana a farra é certa (atualmente ele tá pegando leve). E numa festa realizada na praça da Kalilândia, onde ele mora, tomou todas e mais algumas. Lá pela boca da noite, ele estava andando pelo meio do povo perdido, parecendo um zumbi. De repente surgiu na sua frente Verme Nando, também habitante da Kalilândia, parceiro de farra de Aranha. Quando avistou o amigo, gritou:
- Rapaz, você aqui. Eu estava justamente procurando algum amigo para me informar onde é que se pega um ônibus para Feira de Santana.
Verme Nando retrucou, com voz pastosa:
- Eu ia lhe perguntar a mesma coisa.
Uma das melhores “tiradas” de Sérgio Aranha foi sobre um destes sujeitos que se acham irresistíveis com as mulheres, dos quais elas se aproveitam pra fazer com que gastem com elas, seja comprando presentes, fazendo farras e coisas assim. É o tipo de sujeito que os homens chamam de “Gastão”, e as mulheres de “Gastoso”. O famoso “Trem Pagador”.
Estávamos, eu e Aranha, sentados numa mesa do Bar do Vital quando foi encostando ao meio fio um carro cheio de umas meninas conhecidas nossas, tendo ao volante um sujeito que a gente não conhecia. Quando o cara foi parando o carro, as meninas se assanharam todas pro nosso lado. O cara percebeu que ele tava dando uma de “Queirós” (trazendo mulher pra nós), e sem desligar o carro avançou, levando as meninas consigo.
Eu então perguntei: Quem é aquele cara, Aranha?
Resumindo tudo numa frase de duplo sentido, e aludindo a um dos vultos históricos do Brasil, ele respondeu displicentemente:
- José do Patrocínio.
Assim é Aranha, não se exaspera com nada. Tudo com ele é na calma, na gozação. Certo dia estava ele jogando dominó com alguns amigos no Boteco do Vital, quando sua mulher desceu do táxi e já foi logo gritando:
- Aranha! O gás acabou!
Sem tirar os olhos das pedras do jogo, ele falou pro dono do bar:
- Vital. Sirva um botijão de gás para aquela senhora ali.
Sem entender nada, Vital Respondeu:
- Mas, Aranha, aqui não tem botijão de gás para vender.
Aranha não se fez de rogado. Ainda sem tirar os olhos do jogo, retrucou:
- Então informe àquela senhora que ela veio comprar gás no lugar erra

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