sábado, 12 de dezembro de 2009

Artigo da Semana



Filhos

“Seus filhos não são vossos filhos. São filhos da vida pela ânsia de si mesma” (Gibran)

Ouço a notícia de que um adolescente tentou o suicídio e está em coma. O motivo: teria sido reprovado em Matemática. Ponho-me a refletir. Lembro do jornalista Carlos O’Bravo, que disse uma vez: “os pais querem que os filhos sejam médicos, advogados ou engenheiros. Mas se o moleque não tem vocação, fazer o que? Se ele toca algum instrumento ou bate um bola certinha, é melhor incentivar, porque este pode ser o caminho dele”.
Eu tenho quatro filhos. Nunca desejei que fossem isso ou aquilo. Apenas cumpri o meu papel de pai, apoiando-os em suas iniciativas e orientando-os quando necessário se fez. A obsessão dos pais em que seus filhos sejam bem sucedidos financeiramente os leva à paranóia, às raias da loucura, e dá no que dá.
Eu tenho dito reiteradas vezes de que o ser humano precisa de um mínino para viver bem. Principalmente os cristãos, que vivem conforme Jesus ensinou, vivendo um dia de cada vez, sem se preocupar em cuidar do amanhã, porque, segundo o Mestre, “o amanhã cuidará de si mesmo”. Ninguém pode querer fazer de um filho um espelho de si mesmo. Cada ser vivente é único, e carrega em si os dons que Deus lhe deu para que possa através deles viver e ser feliz.
O que eu desejo para o meu filho não importa, mas sim o que ele deseja para si mesmo. O trabalho dos pais é estimular neles os sonhos e ajudá-los a realizá-los, sem, contudo, interferir nas decisões. Minha filha esteve se formando em jornalismo e desistiu faltando apenas oito matérias para concluir o curso. Casou, fez outros vestibulares, passou, mas não decidiu o que cursar.
Ninguém venha me dizer que ela tomou decisões erradas. É da natureza dela ser indecisa, mas está agindo de acordo com o que cada momento pede, jogando com as cartas que tem nas mãos. O que importa é que ela está feliz. Eu tenho mais é que agradecer a Deus porque ela é jovem, tem saúde, inteligência, e saberá tomar as decisões certas, quando os problemas se apresentaram.
Tenho outros três filhos, cada um seguindo o seu caminho, ao seu modo, sem receber de mim qualquer tipo de pressão. Se me pedem opinião, eu dou, se me pedem ajuda, eu faço o que me for possível. É esse o meu papel. Não posso decidir por eles. Se Deus lhes deu dons, é meu papel incentivá-los a desenvolver estes dons. Não posso ir de encontro a isso.
Carlos O’Bravo disse: “essa mania dos pais forçarem os filhos a estudar Medicina ou Direito fez com que as maiores jumentalidades do Brasil se abrigassem justamente nestas áreas. Os seus clientes, na maioria das vezes, acabam mortos ou presos, o que reduz em muito as suas chances de se fazerem ouvidos”.

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