sábado, 12 de dezembro de 2009

Quem não conhece, conheça, José da Silva, o “Caculé”


Nos anos 60 era notória uma figura nas ruas de Feira de Santana, mas ninguém sabia o seu verdadeiro nome, pois todos o chamavam de Caculé. Na época, o movimento fundado por Roberto Carlos, conhecido com Jovem Guarda, ditava a programação musical das emissoras de rádio e TV. Fã incondicional de “Rei”, José da Silva, o “Caculé”, procurava imitar o visual do seu ídolo. Cabelo escovado sobre a testa, com a indefectível escova “Pata-pata”, que sempre trazia no bolso traseiro da calça, ele ainda, usava pulseiras, colares e anéis, vestia calças com boca de funil, cintos com largas fivelas e botinhas de salto alto, ao melhor estilo “Beatles”.
Hoje, aos 58 anos, nem ele mesmo sabe a origem do apelido. Erroneamente, ele diz que Caculé “é a terra do cantor Waldick Soriano” (na verdade é Caetité). “Quando cheguei de São Paulo me botaram esse apelido e eu não gostei. Brigava com quem me chamava assim. Aí uma mulher disse: oxente meu fio... ocê vai brigá com todo mundo por causo de apelido? Aí eu parei de brigar e o apelido ficou... até hoje”.
“Eu era fã de Roberto Carlos, usava aquelas roupas, as fivelas grandes nos cintos largos, o cabelo liso, longo e escovado. Mas hoje não tem mais não. Tempo bom já foi, agora não tem mais. Emprego ninguém acha, e eu sempre vivi de vender minhas bugigangas. Estudei só até a 2ª série (fundamental)”, conta ele.
Entre as “bugigangas” que vende (utensílios domésticos, material de limpeza, e outras quinquilharias), Caculé vende um rapé (fumo torrado e moído) enriquecido com umburana de cheiro, patchuli, noz moscada, anis-estrelado e velaminho caboclo, entre outras ervas aromáticas. “Eu mesmo que faço, tanto pra usar quanto pra vender, e é bom até pra sinusite”, afirma ele.

Drogas
“O povo achava que eu usava drogas, que fumava maconha, mas no meu tempo não existia esse negócio de drogas. Só maconha, mas graças a Deus eu nunca usei. Eu só tomava cachaça. Eu e meu amigo cabo França, que hoje dia é crente (evangélico). Na década de 70 a gente freqüentava muito o Minadouro (baixo meretrício da cidade). eu bebi e fumei muito, mas hoje não bebo e não fumo”.
Caculé diz que nasceu na Paraíba e que chegou em Feira de Santana com 10 anos de idade, juntamente com a família. “Eu tinha cinco irmãos, mas um morreu. Meus pais também já morreram. Meu pai de câncer e minha mãe de úlcera”, conta ele. “Eu gostava muito de festa. Naquele tempo o povo vivia era com as portas abertas. Hoje em dia quem faz isso? Curti Os Leopardos, Bispão, freqüentei os bailes do Gastão, Municipal, na década de 70. Era muito bom”! – lembra, saudoso.
“Moro na Queimadinha há muitos anos, numa casa deixada por meus pais. E pra sobreviver, continuo vendendo minhas bugigangas. O homem não pode roubar o que é dos outros. Tem mais é que amar a Deus e amar o próximo como a si mesmo. Mas, ninguém mais segue esse mandamento da Lei de Deus. Jesus tá perto de chegar e vamos ver quem é que vai ser escolhido por ele aqui na Terra. Hoje ninguém mais crê em Deus, a mocidade está se acabando nas drogas. No meu tempo era cachaça, namoro, brincar a noite toda nas boates, não tinha violência. Hoje a gente vai numa festa e é roubado, tem muita violência. Ta demais. Namorei muito, mas nunca casei! Graças a Deus! Se eu fosse casado a minha família ia era passar fome”, diz.
Eu me considero uma pessoa feliz, porque as coisas só acontecem quando Deus quer. Ninguém nasce doente ou com problemas porque quer. Tudo vem de Deus. E existem as doenças espirituais, que ninguém sabe, ninguém explica. Eu mesmo tomo remédio controlado, por causa do nervoso. Eu não sou doido, porque quem é doido rasga dinheiro e anda nu nas ruas. Eu tomei uma queda quando tinha dois anos, e ficou um ‘foco’ na minha cabeça. A médica diz que eu tenho um distúrbio. Na época meu pai não tinha condição de me tratar. “Mas, afora isso e a pressão alta, eu não tenho mais nenhum problema de saúde”, afirma.

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