Uma das maiores repulsas da
sociedade brasileira sempre foi o patrimonialismo, a corrupção que
devastava o país desde sua descoberta, sem nenhuma punição, em um
consórcio que unia empresários insaciados, políticos oportunistas, e uma
Justiça leniente. Esse cansaço, exacerbado pelos anos do projeto de
poder sustentado pela corrupção que o PT e associados elevaram ao estado
da arte, acabou por levar Bolsonaro a sua eleição. O eterno compadrio
só foi modificado pelo juiz Sérgio Moro e
a Lava-Jato, que obtiveram resultados espetaculares com a recuperação
de recursos, prisão de vários políticos e empresários que jamais
sonharíamos em ver na cadeia.
Em tese, essa operação deveria ser um
orgulho nacional- como é mundial-, mas aqui tem despertado muitas
forças de oposição que desejam manter as imorais regras do jogo.. Com a
entrada do Centrão, no governo, o afastamento de Moro, a não aprovação
da prisão em segunda instância e do fim do foro privilegiado, o
compromisso de campanha e a esperança nacional vai ficando cada vez mais
distante de ser cumprido.Uma das maneiras de inibir a Lava-jato está sendo conduzida pelo atual Procurador Geral da República, Augusto Aras, escolhido por Bolsonaro, fora da lista tríplice. Usando o sofisma de corrigir excessos, ele fez sérias acusações aos Procuradores- sem exibir nenhuma prova-, requisitou todos os dados para si e baixou uma portaria que lhe permite acessar o formidável banco de dados de todas as operações da Lava-Jato, no país. Aras faz isso sem o pudor de desmerecer, desqualificar, os colegas e a própria instituição a qual pertence. Caso quisesse corrigir rumos operacionais- o que deve ser feito e seria natural- o faria administrativamente, e não com o agressivo discurso que tem exibido contra a Lava-Jato e que coloca em risco os seus resultados.
Assim, o PGR vai se tornando uma força contrária ao que o país deseja e faz um agrado ao governo Bolsonaro, cada vez mais recheado de denunciados da Lava-Jato. Tudo poderia ser um erro de interpretação se o próprio PGR não tivesse produzido uma dessas frases bestiais que escapam e sintetizam com clareza luminar os fatos: “esse conceito lavajatismo há de ser superado pelo natural, bom e antigo enfrentamento à corrupção"
O natural, bom e antigo enfrentamento a corrupção, gerou apenas 500 anos de impunidade. Só consigo me lembrar das últimas palavras de Kurtz, agonizante dentro do barco de Marlow, no Congo, em Coração das Trevas, o monumental livro de Joseph Conrad: "O Horror! O Horror”.
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