Lavar
embalagens com água e sabão, evitar consumir alimentos crus e
desinfetar pias e tábuas de corte com álcool 70: práticas que a epidemia
do novo coronavírus inseriu na rotina dos brasileiros. Mas até que
ponto os alimentos e suas embalagens podem ser contaminados pelo
coronavírus e infectar as pessoas? O médico veterinário Paulo Abílio
Varella Lisboa, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em
Saúde (Icict/ Fiocruz), defende que, apesar de não haver evidências
comprovadas de que os alimentos possam transmitir o vírus, é preciso,
sim, manter esses hábitos e cuidados. Inclusive depois que a epidemia
passar.
“Ainda não temos nenhum caso descrito de Covid-19 causado pela
ingestão ou contato com alimentos”, explica. “Sabemos que o vírus
Sars-CoV-2 precisa de um hospedeiro vivo para se multiplicar. Mas também
sabemos que pode sobreviver em objetos e superfícies, embora não
possamos assegurar por quanto tempo. Assim, em tese, ele poderia
permanecer por algum tempo na superfície de alimentos, ou nas embalagens
de plástico ou papelão de produtos alimentícios industrializados. Ao
mesmo tempo, a ciência não mensurou ainda qual quantidade de
contaminação nessas superfícies seria necessária para deixar uma pessoa
doente”. Por isso, o jeito é mesmo manter a limpeza dos alimentos e suas
embalagens.
O pesquisador alerta, porém, que os cuidados de higiene com os
alimentos que a população vem tomando por conta do Sars-CoV-2 deveriam
ser incorporadas à rotina mesmo após a pandemia. E que, mais importante
do que passar álcool em embalagens pet, por exemplo, é a lavagem
frequente das mãos: não adianta nada banhar todas as compras de mercado,
se a pessoa não lavar bem as mãos após tocar a maçaneta da porta. Ou
manusear a máscara de proteção enquanto estiver no mercado.
“É pouco provável que a exposição de alguém ao vírus numa embalagem
de alimento seja suficiente para deixar uma pessoa doente. Porém, como
ainda não temos certeza absoluta disso, continua sendo fundamental lavar
as mãos antes e após desembalar ou manipular alimentos. Outras
precauções adicionais a serem adotadas incluem limpar e desinfetar as
superfícies (pias, mesas, bancadas, tábuas de corte e utensílios
domésticos) e lavar regularmente as sacolas reutilizáveis. E, quando
estiver manuseando alimentos, é muito importante evitar tocar nos olhos,
nariz ou boca”, acrescenta.
Importância do cozimento
A maior fonte de transmissão do coronavírus, ressalta Paulo Abílio,
continua sendo através de pessoas infectadas que emitem gotículas
durante uma tosse ou um espirro, ou mesmo falando alto. Essas gotículas
podem ser recebidas por outra pessoa que não tenha tido contato com o
vírus. Além disso, uma pessoa pode se infectar depois de tocar em uma
superfície, objeto contaminado ou mesmo na pele de outra pessoa, e
depois levar sua própria mão à boca, ao nariz ou aos olhos. “Isso pode
acontecer, por exemplo, ao tocar a maçaneta de uma porta, ou apertar a
mão de alguém, e logo em seguida levar a mão ao rosto – um hábito
natural, muito comum, que agora se tornou perigoso”, diz.
Outro ponto importante ressaltado por Paul Abílio está na preparação
dos alimentos. Ele afirma que o cozimento adequado, acima dos 70 graus,
consegue matar quase todos os microrganismos perigosos – inclusive o
Sars-CoV-2. Os alimentos que requerem mais atenção, acrescenta, incluem a
carne picada ou moída, os bolos ou misturas de carne e grandes peças de
carne e aves inteiras. Congelar alimentos a menos de 5 graus também
contribui para impedir o desenvolvimento do vírus.
Paulo Abílio ressalta que manter saudáveis e seguros todos os
trabalhadores nas cadeias de produção e fornecimento de alimentos (como
os frigoríficos, que no Brasil e no mundo têm se revelado grandes focos
de Covid-19) é fundamental para evitar a escassez de comida no mundo.
Para isso, os Ministérios de Saúde, Agricultura, Desenvolvimento ou
similares de vários países – bem como a Organização Mundial de Saúde
(OMS), o Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e
institutos de ensino e pesquisa – têm elaborado diretrizes, documentos e
regulamentos nacionais de segurança alimentar. (Agência Fiocruz de Notícias)
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