domingo, 11 de outubro de 2020

Filho de peixe peixinho é

 Pedro Surubim Neto. Menino bom e bonito, moreno com seus cabelos longos, soltos ao vento, cresceu com o carinho da família e dos amigos, mas com um problema que ia crescendo como ele. Poderia ser chamado de Neto, ou pelo nome do pai, mas ganhou o “título” carinhoso de Surubinzinho! Na verdade, nada havia de errado, levando-se em conta que “filho de peixe, peixinho é”. Na infância o problema não era tão sério, mas veio a adolescência e a idade adulta e ele continuava filho do peixe de couro, que também é chamado de pintado.

Namorar era problema. Quando a garota tomava conhecimento do seu apelido era difícil explicar.   Na faculdade, pior ainda, a rapaziada  ‘‘tirava sarro” e ele nada podia fazer. De  diploma na mão associou-se a um amigo e ingressou no universo do Direito, defendendo ou acusando, de acordo com os interesses do cliente. Era o dr. Surubinzinho. Até em audiências, em alguns momentos, escapava do sisudo magistrado “doutor Surubinzinho...”

Aos 25 anos veio o noivado e na bela festa, abraços, apertos de mão, felicitações e as inevitáveis perguntas de sempre: quando será o casamento, onde será a lua de mel, o primeiro herdeiro já está “encomendado?”, menino ou menina, qual a preferência? E um gaiato, talvez sem perceber a dimensão da questão, “e ai, vai ser um novo surubinzinho, uma surubinzinha, ou uma surubinha?”. Perdendo a calma e a compostura, a resposta foi breve: “Não, vai ser a Puta que o Pariu”.

Quem nunca tinha visto o dr. Surubinzinho zangado, ferrado  mesmo, viu naquele momento. Foi a abolição da escravatura! Dali em diante, depois de tanto anos, passou a ter um nome digno, assim como o seu avô e seu pai. Era o dr. Surubim, nada de diminutivo!

 

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