domingo, 25 de outubro de 2020

Histórias da Pincesa

Agricultura precisa de mais incentivos e organização para se fortalecer

Os trabalhadores de Feira de Santana, nos primeiros anos da década de 1980, não protagonizaram grandes atividades de luta política e econômica. Na verdade, as tentativas que ficavam por conta das “vanguardas” não eram muito bem sucedidas.  No início da década de 1980, até 1986, Feira de Santana ainda gozava de um relativo crescimento econômico e uma alta empregabilidade devido a chegada ou permanência de indústrias do Centro Industrial Subaé (CIS) no fim da década de 1970. A zona rural de Feira de Santana era marcada pela cultura de subsistência, com base no plantio de milho, feijão, mandioca e fumo. Essas culturas foram diversificadas e são chamadas de Agricultura Familiar, que gera trabalho e renda suficientes para manter os pequenos produtores rurais no campo, evitando assim o êxodo rural. Se planta e se cria de tudo e o mercado absorve bem a produção agrícola.


Com o apoio técnico de instituições particulares como o Movimento de Organização Comunitária (MOC),
e Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb),e também de órgãos governamentais, os pequenos produtores rurais do semiárido estão aprendendo a conviver com as estiagens, superando dificuldades e aumentando a produção. E o mercado absorve bem. Atualmente, o consumidor não preciso ir buscar mercado, porque se algum dono de restaurante descobre quem produz e onde produz o que ele necessita, vai lá buscar na porta do produtor. Mas há o risco de atravessadores, que vão comprar na porta do produtor, e levam ao mercado por um preço superior, e até chegar ao consumidor final, o produto já encareceu bastante. Seria necessária uma intervenção governamental, ou a criação de cooperativas, que pudessem fazer chegar o produto diretamente ao consumidor final. Atualmente o Sindicato dos trabalhadores Rurais (STR), que tem sua sede próxima ao Centro de Abastecimento, promove uma Feira de Agricultura Familiar, no âmbito da sua sede, onde os consumidores podem comprar produtos diretamente dos produtores. Mas ainda é uma coisa muito tímida, que precisa ser ampliada e promovida.

A questão da posse da terra também é uma coisa que ainda não está resolvida. São poucos os pequenos produtores da região que detém o título de posse da terra. À medida que os filhos foram crescendo os antigos proprietários foram subdividindo suas posses entre eles, e esses títulos nem sempre foram oficializados. E para ter acesso a alguns benefícios do governo, o agricultor tem que ser o dono da terra. Isso tem sido alvo de debates, de mobilização, de manifestações, para cobrar da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), que é o órgão do governo habilitado a regularizar toda essa questão fundiária. O trabalhador que tem até uma tarefa de terra, para ter acesso ao crédito, a recursos de banco, financiamentos, só consegue se tiver o documento de posse, entre outros, como declaração do Imposto Territorial Rural (ITR), ou então se alguém da família ceder a terra em contrato de comodato. Assim ele pode ter acesso a qualquer benefício do governo do estado ou do governo federal, dos programas da Agricultura Familiar, como o PRONAF e Garantia SAFRA.

Iniciativas

Segundo a ruralista Conceição Borges, presidente do STR, aumentou muito o criatório de galinha caipira no Município.Mas mesmo com todo mundo criando, a gente não dá conta da demanda do mercado. Os pequenos abatedores têm que se organizar, porque se a gente beneficiar carne de frango, se a gente estiver com a marca do abatedouro, com a marca da Agricultura Familiar, o preço será bem melhor porque vamos agregar valores ao nosso produto”, diz ela.

         Questionada sobre a comentada falta de iniciativa do homem do campo, Conceição Borges argumenta que certos benefícios do governo precisam de complemento. Como exemplo ela cita a energia elétrica que tem chegado às propriedades rurais da região. “ Se eu botar uma bomba para puxar água e irrigar uma horta, é capaz de eu não poder pagar a conta da energia. É a mesma coisa com a água da Embasa. Tudo isso passa por um projeto de desenvolvimento sustentável. Ou seja, não basta levar água encanada e energia. Tem que dar projetos, assistência técnica e subsídios para que se possa produzir. Água para todos, é muito bacana, mas a gente precisa de água pra tudo. Água para todos é na cidade, no campo a gente precisa para tudo, inclusive para produzir”, diz.

 Êxodo oculto

Um problema detectado em Feira de Santana pode estar ocorrendo em outras regiões do Brasil que é um êxodo oculto. Com a melhoria dos acessos, com a maior oferta dos transportes coletivos, a facilidade da aquisição de meios próprios, como as motocicletas, e o conforto proporcionado por água encanada, energia e telefonia, a vida no campo ficou melhor. Mas um detalhe preocupa, que é o fato de que os filhos dos pequenos produtores, vivem no campo, mas não querem trabalhar na terra. A maioria tem emprego no comércio e na indústria e só vai em casa para dormir.

Isso, futuramente, pode implicar em desabastecimento das cidades. O campo já está consumindo quase tudo que produz e a produção não está aumentando, pelo contrário, está diminuindo. “Vai chegar uma hora que nós não vamos ter o que comprar, vamos ter que importar produto. Aqui em Feira de Santana nós quase já não temos. E tem um agravante, que é o empobrecimento do solo. Mesmo que tenha aquele agricultor com aquela vontade, com a aquela paixão de continuar plantando, a nossa terra tá pobre. Se não houver uma preocupação dos órgãos técnicos em proporcionar o desenvolvimento sustentável no campo, vai faltar comida. Pelo menos aqui na nossa região”, alerta Conceição Borges.

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