quinta-feira, 22 de julho de 2021

Escândalo Pegasus: estamos todos virando espiões sem saber?

As suspeitas de que um software espião conhecido como Pegasus foi usado para vigiar jornalistas, ativistas e até mesmo políticos demonstra que, hoje, a vigilância está à venda.

A empresa por trás da ferramenta, a NSO Group, nega as acusações e diz que seus serviços são usados de forma criteriosa.

Mas o escândalo é mais um sintoma de que as técnicas de espionagem de ponta, antes exclusividade de alguns Estados, estão agora disseminadas e desafiam a privacidade e a segurança em um mundo cada vez mais digital.

Em um passado não muito distante, se um serviço de segurança quisesse descobrir o que você andava fazendo, precisava fazer um certo esforço: podiam obter um mandado de segurança para grampear seu telefone, plantar um ponto de escuta na sua casa ou enviar agentes para te vigiar.

Descobrir a rotina e os contatos de alguém exigia mais paciência e tempo. 

Agora, quase tudo o que os outros podem querer investigar — o que uma pessoa diz, onde esteve, quem conheceu, e até quais são seus interesses — está reunido em um aparelho que carregamos o tempo todo.

Um celular pode ser acessado remotamente sem que ninguém sequer toque nele, e sem que seu proprietário perceba.

A capacidade de acessar remotamente um celular já esteve nas mãos de poucos Estados — mas, hoje, vários países, e até mesmo indivíduos e pequenos grupos, conseguem ter acesso a esse tipo de serviço. 

Potência israelense

Ilustração de cadeados simbolizando roubo de dados
Hoje, celulares representam um verdadeiro tesouro de dados (Getty Images)

Em 2013, o ex-consultor da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) Edward Snowden revelou o poder das agências de inteligência dos EUA e do Reino Unido para acessar as redes globais de comunicação.

Essas agências sempre afirmaram que suas operações estavam sujeitas às autorizações e à supervisão de um país democrático. Na realidade, esse monitoramento por órgãos públicos era bastante fraco na época, mas foi incrementado desde então.

As revelações de Snowden, entretanto, mostraram a outros países o que havia no cardápio de espionagem e serviços de inteligências — que um grupo de empresas, a maioria bastantes discretas, tinham à disposição para vender.

Israel sempre foi uma potência de primeira linha neste mercado, criando e detendo recursos de vigilância de ponta. Suas empresas, como a NSO Group, muitas vezes formadas por veteranos de órgãos de inteligência, logo se tornaram uma das protagonistas no segmento.

A NSO diz que só vende seu programa de espionagem para monitoramento de criminosos graves e terroristas. O problema é definir essas categorias.

Países autoritários frequentemente defendem que jornalistas, opositores e ativistas são criminosos ou uma ameaça à segurança nacional, o que os tornaria dignos de vigilância.

E em muitos desses países, há pouca ou nenhuma responsabilidade e supervisão por outros órgãos públicos de como essas poderosas ferramentas são usadas.

A disseminação da criptografia também tornou mais tentador para governos acessarem os dispositivos das pessoas. Quando as ligações eram o principal meio de comunicação, uma empresa de telefonia podia receber ordens para grampear a conversa — e isso significava literalmente conectar fios à linha.

Mas agora as conversas costumam ser criptografadas, o que significa que você precisa acessar o próprio dispositivo para ver o que foi dito. Além destas informações, os celulares carregam muitas outras — um verdadeiro tesouro em termos de dados.

Em alguns casos, os Estados já demonstraram fazer isso de maneira inteligente e bem justificada — um exemplo recente foi uma operação conjunta entre Estados Unidos e Austrália, na qual gangues receberam celulares que pareciam seguros, mas na verdade eram operados por policiais. (BBC News Brasil)

 

 

Nenhum comentário: